Tungíase: doença negligenciada causando patologia grave

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5 – DISCUSSÃO 5.1 – EPIDEMIOLOGIA DA TUNGÍASE NA NIGÉRIA As prevalências encontradas em Yovoyan (51,1%) e em Okunilage (40,5%) foram tão elevadas quanto as identificadas em outros estudos populacionais no Brasil e na África. Por exemplo, em áreas endêmicas pesqueiras e costeiras no Brasil, as prevalências variaram entre 51,3% e 54,8% (CARVALHO et al., 2003; MUEHLEN et al., 2003). Especificamente na África, não há estudos exclusivos em regiões litorâneas, mas em uma vila rural também na Nigéria próxima às áreas deste estudo. A prevalência encontrada foi de 42,5% (UGBOMOIKO et al., 2007b). Em Camarões, foram reportadas prevalências de 53% em um conjunto de comunidades, e 49% em escolares (NJEUMI et al., 2002; COLLINS et al., 2009). Para o mesmo período sazonal (estação seca), em uma favela urbana no nordeste do Brasil foi identificado um pico de prevalência de 54,4% tão elevado quanto em Yovoyan (HEUKELBACH et al., 2005). Embora seja reconhecida a sazonalidade da tungíase (HEUKELBACH et al., 2005), nas duas comunidades a coleta foi feita apenas no período da seca. Na época das chuvas havia dificuldade de acesso às comunidades. Além disto, de acordo com informantes-chaves, a tungíase não ocorre durante o período de muita chuva, típicos desta região. As altas prevalências de tungíase encontradas em Yovoyan e Okunilage podem ser explicadas, principalmente, pelas inadequadas condições sócio- econômicas, sanitárias e estruturais de pobreza em que vivem as comunidades afetadas, as quais a incluem entre as doenças tropicais de pele negligenciadas (HEUKELBACH et al., 2001; HEUKELBACH et al., 2002a; FELDMEIER e HEUKELBACH, 2009). Nas comunidades de Yovoyan e Okunilage não havia abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica, sistema de esgoto e coleta pública de lixo. Serviços de saúde eram inexistentes. A maioria dos indivíduos adultos das comunidades era analfabeta e aqueles que tinham escolaridade apresentavam dificuldade em ler e escrever o próprio nome; e os adultos economicamente ativos não tinham vínculo formal de trabalho. As moradias eram precárias. Além disso, reservatórios animais (como cães, gatos e ratos) eram abundantes. 77

Tais características identificadas nas áreas de estudo corroboram observações e estudos anteriores, os quais afirmam que a tungíase tem maior impacto em populações sem acesso a assistência de saúde (FELDMEIER et al., 2003). Em estudo no Brasil os principais fatores de risco associados a tungíase geral e grave estavam associadas às condições precárias da habitação (incluído ausência de piso de areia dentro das habitações), presença de cães e gatos domésticos e baixa escolaridade (MUEHLEN et al., 2006). Em uma vila rural da Nigéria, piso de barro ou areia em casa, e a presença de porcos foram fortemente associadas à tungíase (UGBOMOIKO et al., 2007a). Independente das possíveis características sócio-ambientais e culturais que podem ter influenciado a ligeira diferença entre as prevalências (bem como cargas parasitárias e gravidade) de Yovoyan e Okunilage, estas apresentaram condições típica de áreas endêmicas de alta prevalência. Nestes cenários, conforme esperado, os grupos etários mais afetados por tungíase nas duas comunidades foram crianças menores de

5 – DISCUSSÃO<br />

5.1 – EPIDEMIOLOGIA DA TUNGÍASE NA NIGÉRIA<br />

As prevalências encontradas em Yovoyan (51,1%) e em Okunilage<br />

(40,5%) foram tão elevadas quanto as identificadas em outros estudos populacionais<br />

no Brasil e na África. Por exemplo, em áreas endêmicas pesqueiras e costeiras no<br />

Brasil, as prevalências variaram entre 51,3% e 54,8% (CARVALHO et al., 2003;<br />

MUEHLEN et al., 2003). Especificamente na África, não há estudos exclusivos em<br />

regiões litorâneas, mas em uma vila rural também na Nigéria próxima às áreas deste<br />

estudo. A prevalência encontrada foi de 42,5% (UGBOMOIKO et al., 2007b). Em<br />

Camarões, foram reportadas prevalências de 53% em um conjunto de comunidades, e<br />

49% em escolares (NJEUMI et al., 2002; COLLINS et al., 2009). Para o mesmo<br />

período sazonal (estação seca), em uma favela urbana no nordeste do Brasil foi<br />

identificado um pico de prevalência de 54,4% tão elevado quanto em Yovoyan<br />

(HEUKELBACH et al., 2005).<br />

Embora seja reconhecida a sazonalidade da tungíase (HEUKELBACH et<br />

al., 2005), nas duas comunidades a coleta foi feita apenas no período da seca. Na<br />

época das chuvas havia dificuldade de acesso às comunidades. Além disto, de acordo<br />

com informantes-chaves, a tungíase não ocorre durante o período de muita chuva,<br />

típicos desta região.<br />

As altas prevalências de tungíase encontradas em Yovoyan e Okunilage<br />

podem ser explicadas, principalmente, pelas inadequadas condições sócio-<br />

econômicas, sanitárias e estruturais de pobreza em que vivem as comunidades<br />

afetadas, as quais a incluem entre as <strong>doença</strong>s tropicais de pele <strong>negligenciada</strong>s<br />

(HEUKELBACH et al., 2001; HEUKELBACH et al., 2002a; FELDMEIER e<br />

HEUKELBACH, 2009). Nas comunidades de Yovoyan e Okunilage não havia<br />

abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica, sistema de esgoto e coleta<br />

pública de lixo. Serviços de saúde eram inexistentes. A maioria dos indivíduos<br />

adultos das comunidades era analfabeta e aqueles que tinham escolaridade<br />

apresentavam dificuldade em ler e escrever o próprio nome; e os adultos<br />

economicamente ativos não tinham vínculo formal de trabalho. As moradias eram<br />

precárias. Além disso, reservatórios animais (como cães, gatos e ratos) eram<br />

abundantes.<br />

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