Orion 7

Havia, com ela, um fenómeno bizarro. Ao manter-se em silêncio, as
imagens brotavam em seu redor. Começando a falar, tudo o que lhe aparecia, se
eclipsava. Frases impróprias, visões desconexas. Contudo, a tal manancial insólito
correspondia uma coerência ritual, que a estimulava, como anseio solto, entre
improviso e expectativa.
Logo, esse misto amotinado de vozes fantasmas com figuras sonantes
produzia outras singularidades – ao acaso, monstros ternos e animais felinos. Tais
criaturas prodigiosas ou domésticas invadiam-lhe a intimidade, insinuavam-se na
ambiguidade. Propunham lúdicas, ora sibilinas circunstâncias e aventuras, sobre
a fantasia ou a ilusão.
Era a exploração de Tock, por mais uma exposição humana quanto aos
fados e feitiços em Lisboa. Os feitios e as facécias que a trinavam, os clamores e
fulgores que a escarneciam. Exacerbando-a na pulsão cósmica, à pulsação
alfacinha de desplante ou sortilégio. Revertendo-lhe a luxúria fantástica, com a
penúria insólita e castiça.
Atropelos, tropelias. Divertida, atrapalhada, Tock instigava a chama
extinta sob o fogo eterno. Suscitando os cúmplices precários, à altivez de um
clímax burlesco. Vertigem, uma viragem simulada ao extravio sideral…
Resquícios e acordes que se fundem e incitam. Os sussurros evoluem em
frequência. As sombras ouvem-se à distância.
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