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Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves

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não é o que elas sentem. É o ato sacramental que o sacerdote executa. É a Igreja<br />

que estabelece a união matrimonial. Sacramentos são atos que um sacerdote<br />

executa, em nome de Deus. Portanto, é Deus que executa. E se é Deus que<br />

executa, não pode ser desfeito. “Aquilo que Deus ajuntou não o separe o homem.”<br />

A rejeição do divórcio por parte da Igreja nada tem a ver com o seu amor pela<br />

família. O que está em jogo é o poder divino da Igreja para unir. Se ela aceitasse o<br />

divórcio, estaria confessando que o sacramento do matrimônio não é coisa divina.<br />

E, com isso, estaria se desqualificando como legítima representante de Deus. Acho<br />

que o certo seria dizer: “Aquilo que Deus ajuntou o homem não separa. Se separou<br />

é porque Deus não juntou...”.<br />

Quem não pode transar não pode casar<br />

<strong>Faz</strong> tempo escrevi um artigo com esse título, “Quem não pode transar não pode<br />

casar”. Uma enfermeira e seu paciente paraplégico se apaixonaram e queriam<br />

casar. Mas, por ser paraplégico, o homem não poderia ter relações sexuais.<br />

Queriam casar por puro amor. Mas o bispo proibiu alegando que a sã doutrina da<br />

Igreja estabelecia que a função do casamento é a procriação. Daí o título do meu<br />

artigo: “Quem não pode transar não pode casar”. Com os progressos da ciência,<br />

poderá chegar um dia em que a Igreja exigirá um espermograma dos noivos, e os<br />

estéreis estarão proibidos de casar, bem como os velhos.<br />

É difícil dizer que se ama<br />

Havia uma moça que passava sempre defronte da minha casa. Eu a via, do outro<br />

lado da rua. Ela tinha um defeito na perna que a fazia mancar. O seu rosto tinha<br />

uma suavidade, uma beleza que me encantava. E eu ficava com vontade de<br />

atravessar a rua e dizer-lhe: “Eu acho você muito bonita!”. E voltar correndo para<br />

dentro de casa. Nunca tive coragem. Tive medo de que ela me considerasse um<br />

velho desrespeitoso, dando-lhe uma cantada. E eu fico a me perguntar: por que é<br />

tão difícil dizer aos outros o quanto gostamos deles?<br />

Encontro e separação<br />

Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. E neste<br />

espaço o amor só sobrevive graças a algo que se chama fidelidade: a espera do<br />

regresso. Quem não pode suportar a dor da separação não está preparado para o<br />

amor. Porque amor é algo que não se possui, jamais. É evento de graça. Aparece<br />

quando quer, e só nos resta ficar à espera. E, quando ele volta, a alegria volta com

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