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Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves

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Calcutá, Nietzsche, Faure, Gandhi foram todos pessoas de sensibilidade<br />

exacerbada. Por causa deles o mundo ficou melhor e mais bonito. O que faz um<br />

médico não são os seus conhecimentos de ciência médica. A ciência médica é algo<br />

que lhe é exterior e que ele leva consigo, como se fosse uma valise. Os<br />

conhecimentos científicos, qualquer pessoa pode ter. Mas a alma de um médico<br />

não se encontra no lugar do saber, mas no lugar do amor. O médico é movido pela<br />

compaixão. Albert Schweitzer transformou esse sentimento num princípio ético que<br />

todo médico deveria ter afixado no seu consultório, para não se esquecer:<br />

“Reverência pela vida”. Toda vida, a mais ínfima, é sagrada. E foi movido por esse<br />

sentimento que aos trinta anos começou os seus estudos de medicina e foi exercêla,<br />

pelo resto de sua vida, num lugar abandonado do coração da África chamado<br />

Lambarene.<br />

Os primeiros colocados nos vestibulares<br />

Já faz anos que os cursinhos publicam as fotografias dos seus alunos que passaram<br />

em primeiro lugar nos exames vestibulares. Tais alunos bem que merecem, pois se<br />

trata de um feito extraordinário. Mas eu gostaria mesmo é que alguém fizesse uma<br />

pesquisa sobre o destino profissional desses gênios de memória. É preciso não<br />

confundir memória com inteligência.<br />

Inteligência emocional<br />

Fez e ainda faz muito sucesso um livro com esse título, Inteligência emocional. Mas<br />

o meu amigo, professor Eduardo Chaves, fez uma observação muitíssimo correta:<br />

“Não existe inteligência emocional. O que existe é emoção inteligente”. É a emoção<br />

que busca inteligência para realizar os seus sonhos. A inteligência é ferramenta da<br />

emoção. A inteligência, em si mesma, não sente necessidade alguma da emoção.<br />

Pianos<br />

Murilo Mendes, em suas memórias de infância, diz que Juiz de Fora era a cidade<br />

dos pianos. Hoje não dá mais para perceber. Mas, antigamente, quando se andava<br />

a pé, ao caminhar ouvia-se o som dos pianos, os principiantes estudando o Czerny,<br />

os mais adiantados tocando valsas. Ter um piano era prova de nobreza. Quem não<br />

era nobre tocava violão ou clarineta. Boa Esperança, cidadezinha onde nasci,<br />

perdida no interior, sem trem de ferro, não era nobre. Tinha não mais que dois<br />

pianos. Minha mãe, de origem nobre, ao casar recebeu de meu avô, como<br />

presente, um piano importado da França, Pleyel. Demorou a chegar. E nem sei

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