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Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o<br />
vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com<br />
precisas informações sobre as regras da gramática que eu não respeitava, e sobre<br />
a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz<br />
de uma palavra. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas<br />
Gerais, falei em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato, trata-se de um equívoco<br />
que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino<br />
da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do<br />
dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma “varroa” (sic!) (você não<br />
sabe o que é uma “varroa”?) para corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está<br />
certo. O certo é “varrição” e não “varreção”. Mas estou com medo de que os<br />
mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de “varrição”. E se<br />
eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do<br />
dicionário com a “varroa” no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a<br />
língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção”<br />
quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca<br />
tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha<br />
sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.<br />
Para corromper um jovem<br />
“A maneira mais simples de corromper um jovem é ensiná-lo a respeitar mais<br />
aqueles que têm opiniões iguais às suas que aqueles que têm opiniões diferentes<br />
das suas.” (Nietzsche)<br />
Samuel Lago<br />
... é um homem risonho, afável, apaixonado pela educação. Escreve<br />
deliciosamente. Recebi dele um livrinho, livrinho mesmo, 7 centímetros de largura<br />
por 10 de comprimento, cheio de aforismos sobre a educação. Muitos grandes<br />
pensadores se deliciavam com os aforismos. Lembro-me de Lichtenberg, que<br />
Nietzsche e Murilo Mendes muito amavam, Nietzsche, Oscar Wilde. Um aforismo é<br />
um relâmpago: brevíssimo, ilumina os céus. Por vezes racha rochas. Muitos<br />
cérebros são rochas. Aqui vão alguns canapezinhos. “A verdadeira dificuldade não<br />
está em aceitar ideias novas, mas em escapar das ideias antigas” (Keynes). “Sábio<br />
é aquele que se espanta com tudo” (André Gide). “Todos os jogos são educativos,<br />
menos os jogos educativos” (André Lapierre). “Pensa como pensam os sábios, mas<br />
fala como falam as pessoas simples” (Aristóteles). “Tudo que se ensina à criança a<br />
impede de inventar ou de descobrir” (Piaget). O aforismo de André Gide, em