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Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves

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da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus<br />

pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve<br />

acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa<br />

educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é<br />

verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de<br />

falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a<br />

sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de<br />

terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que<br />

me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e<br />

imediata. A resposta rápida quer dizer: “Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça<br />

a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você<br />

disse não é o que eu diria, portanto está errado...”.<br />

O múltiplo e o simples<br />

O Tao-Te-Ching, livro sagrado do taoísmo, já dizia há mais de um milênio que<br />

temos dois lados. Há um lado que olha para fora. Olhando para fora defrontamonos<br />

com o mundo da multiplicidade, 10 mil coisas que se impõem aos nossos<br />

sentidos, nos dão ordens, nos atropelam, e nos enrolam aos trambolhões, como<br />

aquelas ondas de praias de tombo. Mas há um outro lado que olha para dentro. Aí<br />

nos defrontamos com uma única coisa, o desejo mais profundo do nosso coração,<br />

aquela coisa que, se a tivéssemos, nos traria alegria. Jesus contou a parábola de<br />

um homem que tinha muitas joias e que, ao encontrar uma única pérola<br />

maravilhosa, vendeu as muitas para comprar uma única. No primeiro lado mora o<br />

conhecimento, a ciência, a bolsa de valores, a cotação do dólar, as coisas que se<br />

podem comprar, e todas as coisas que compõem a nossa vida de fora. Essas coisas<br />

são “meios para se viver” – ferramentas que podemos usar. No segundo lado mora<br />

a sabedoria, que é a capacidade para discernir as coisas que valem a pena. Num<br />

bufê, você encheria o seu prato com tudo o que está na mesa? Somente um tolo<br />

faria isso. Você consultaria o seu desejo: “De tudo isso que está à minha frente, o<br />

que é que realmente desejo comer?”. Tolos são aqueles que, seduzidos pela<br />

multiplicidade, se entregam vorazmente a ela. Eles acabam tendo uma terrível<br />

indigestão... Sábios são aqueles que, da multiplicidade, escolhem o essencial.<br />

Simplicidade é isso: escolher o essencial.<br />

Receitas<br />

Leonardo da Vinci foi um dos maiores gênios da humanidade. Pintor, músico,<br />

construtor de instrumentos musicais, compunha, improvisava, arquiteto, escultor,

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