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Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves

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Resultados 100% garantidos”. O mercado para esse remédio milagroso é<br />

inimaginável. Os homens sofrem muito... O sofrimento os torna bobos. Pagam, ele<br />

fica como era e não se pode reclamar, por vergonha...<br />

Memória<br />

A memória, por vezes, é uma maldição. Meu querido amigo Amilcar Herrera me<br />

confessou: “Eu desejaria, um dia, acordar havendo me esquecido do meu nome...”.<br />

Não entendi. Esquecer o próprio nome deve ser uma experiência muito estranha. Aí<br />

ele explicou: “Quando me levanto e sei que meu nome é Amilcar Herrera, sei<br />

também tudo o que se espera de mim. O meu nome diz o que devo ser, o que devo<br />

pensar, o que devo falar. Meu nome é uma gaiola em que estou preso. Mas se, ao<br />

acordar, eu tiver me esquecido do meu nome, terei me esquecido também de tudo<br />

que se espera de mim. Se nada se espera de mim, estou livre para ser aquilo que<br />

nunca fui. Começarei a viver minha vida a partir de mim mesmo e não a partir do<br />

nome que me deram e pelo qual sou conhecido”. Entendi na hora e fiz ligação com<br />

algo que Alberto Caeiro escreveu: “Procuro despir-me do que aprendi, procuro<br />

esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me<br />

pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulharme<br />

e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu”.<br />

Roland Barthes, na sua famosa “Aula”, também disse estar se entregando à<br />

desaprendizagem do aprendido para livrar-se das sucessivas sedimentações dos<br />

saberes que, com a passagem do tempo, vão se depositando em nossos corpos.<br />

Aconteceu comigo: sem nenhum esforço, sem que eu quisesse, repentinamente, eu<br />

me esqueci. Tive um ataque de amnésia. Não me esqueci do meu nome nem do<br />

nome das pessoas nem das ideias. Esqueci-me dos espaços. Coisa semelhante já<br />

havia acontecido com uma querida amiga, professora de neuroanatomia, doutora<br />

nos caminhos complicadíssimos do sistema nervoso. Acordou, olhou em volta e<br />

desconheceu. Que lugar é este? Onde estou? Foi até a porta e a abriu<br />

cuidadosamente. Olhou para um lado, olhou para o outro: um longo corredor com<br />

portas. Podia ser um hotel. Ou um mosteiro. Não teve coragem de sair e perguntar:<br />

“Por favor, digam-me onde estou!”. O outro morreria de susto. Entrou e fechou a<br />

porta. Resolveu pesquisar. Abriu a bolsa. Lá estava o passaporte. Dólares. Estava

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