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Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves

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Morte<br />

E pediram ao profeta: Fale-nos sobre a Morte. E ele disse: “A coruja, cujos olhos<br />

noturnos são cegos durante o dia, não pode revelar o mistério da luz. Se quereis<br />

realmente contemplar o espírito da morte, abri bem o vosso coração para a vida.<br />

Pois a vida e a morte são uma, assim como o rio e o mar são um. Nas profundezas<br />

das vossas esperanças e desejos está vosso conhecimento silencioso do além. E,<br />

como sementes sonhando embaixo da neve, vosso coração sonha com a primavera.<br />

Confiai em vossos sonhos, pois neles estão escondidas as portas para a eternidade.<br />

Pois o que é o morrer além de estar nu ao vento e derreter-se ao sol? E o que é<br />

cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se<br />

elevam e expandem e buscam Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade<br />

quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só<br />

então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então<br />

dançareis.” (Khalil Gibran, O profeta)<br />

O que falar da morte?<br />

As Sagradas Escrituras sugerem que o silêncio é a palavra mais significativa que se<br />

pode falar diante da morte. Porque no silêncio não dizemos nada. O silêncio é<br />

como uma taça vazia que, por ser vazia, permite que a pessoa que está sofrendo<br />

recolha nela todas as suas lágrimas, que nós não conhecemos.<br />

Quem leu O pequeno príncipe entenderá<br />

“Naquela noite não o vi partir. Saiu sem fazer barulho. Quando consegui alcançá-lo<br />

ele caminhava decidido, num passo rápido. Disse-me apenas: ‘Ah! aí estás...’. E<br />

segurou a minha mão. Mas preocupou-se de novo: ‘Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu<br />

parecerei estar morto e isso não será verdade...’. Eu me calara. ‘Tu compreendes. É<br />

muito longe. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado.’ Eu continuava<br />

calado. ‘Mas será como uma velha concha abandonada. Não tem nada de triste<br />

numa velha concha... Será lindo, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as<br />

estrelas serão como poços com um roldana enferrujada. Todas as estrelas me<br />

darão de beber... As pessoas veem as estrelas de maneira diferente. Para aqueles<br />

que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes.<br />

Para os sábios, elas são problemas... Mas todas essas estrelas se calam. Tu,<br />

porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve... Quando olhares o céu de<br />

noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá estarei rindo; então será, para ti,

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