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Morte<br />
E pediram ao profeta: Fale-nos sobre a Morte. E ele disse: “A coruja, cujos olhos<br />
noturnos são cegos durante o dia, não pode revelar o mistério da luz. Se quereis<br />
realmente contemplar o espírito da morte, abri bem o vosso coração para a vida.<br />
Pois a vida e a morte são uma, assim como o rio e o mar são um. Nas profundezas<br />
das vossas esperanças e desejos está vosso conhecimento silencioso do além. E,<br />
como sementes sonhando embaixo da neve, vosso coração sonha com a primavera.<br />
Confiai em vossos sonhos, pois neles estão escondidas as portas para a eternidade.<br />
Pois o que é o morrer além de estar nu ao vento e derreter-se ao sol? E o que é<br />
cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se<br />
elevam e expandem e buscam Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade<br />
quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só<br />
então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então<br />
dançareis.” (Khalil Gibran, O profeta)<br />
O que falar da morte?<br />
As Sagradas Escrituras sugerem que o silêncio é a palavra mais significativa que se<br />
pode falar diante da morte. Porque no silêncio não dizemos nada. O silêncio é<br />
como uma taça vazia que, por ser vazia, permite que a pessoa que está sofrendo<br />
recolha nela todas as suas lágrimas, que nós não conhecemos.<br />
Quem leu O pequeno príncipe entenderá<br />
“Naquela noite não o vi partir. Saiu sem fazer barulho. Quando consegui alcançá-lo<br />
ele caminhava decidido, num passo rápido. Disse-me apenas: ‘Ah! aí estás...’. E<br />
segurou a minha mão. Mas preocupou-se de novo: ‘Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu<br />
parecerei estar morto e isso não será verdade...’. Eu me calara. ‘Tu compreendes. É<br />
muito longe. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado.’ Eu continuava<br />
calado. ‘Mas será como uma velha concha abandonada. Não tem nada de triste<br />
numa velha concha... Será lindo, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as<br />
estrelas serão como poços com um roldana enferrujada. Todas as estrelas me<br />
darão de beber... As pessoas veem as estrelas de maneira diferente. Para aqueles<br />
que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes.<br />
Para os sábios, elas são problemas... Mas todas essas estrelas se calam. Tu,<br />
porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve... Quando olhares o céu de<br />
noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá estarei rindo; então será, para ti,