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médica. <strong>Faz</strong>er isso seria uma crueldade que não se pode admitir.<br />
Por quê?<br />
Haviam acabado de jantar. Pai velho e filho médico vão para a sala de estar, para<br />
conversar. Conversa mansa, gostosa... De repente, o filho nota que o pai ficou<br />
silencioso, não mais reagia às suas palavras, a cabeça pendida para o lado...<br />
Médico, ele compreendeu imediatamente: seu pai morrera. Fez então aquilo que<br />
lhe haviam ensinado, que fazia parte dos seus automatismos médicos: deitou o pai<br />
no chão, fez respiração boca a boca, massagem cardíaca, lutou contra a morte,<br />
como é dever dos médicos. O coração recomeçou a bater. A respiração voltou. Seu<br />
pai voltou a viver. Mas houve sequelas. Ele perdeu o controle dos seus esfíncteres e<br />
ficou obrigado às humilhações e incômodos do fraldão. Assentado na sua cadeira,<br />
ele olhava o filho e lhe dizia: “Por que você fez aquilo? Eu morri tão feliz, em meio<br />
à nossa conversa... Mas você me trouxe de volta e agora estou aqui. Por que você<br />
fez aquilo, filho?”.<br />
Necrologia<br />
Era a página de necrologia. Havia fotografias dos mortos enquanto vivos. Entre<br />
elas, a de uma linda menina. Teria uns dez anos, talvez. Era o convite para uma<br />
missa, por ocasião do dia em que seria o seu aniversário. Meu coração ficou junto<br />
ao coração dos pais. Imaginei-me na situação deles, a dor pela perda de uma filha<br />
menina ainda. Mas houve uma afirmação que não entendi. Dizia-se que a missa<br />
seria “em sufrágio de sua alma”. Eu não sei o que “sufrágio” quer dizer. A alma da<br />
menininha estaria em alguma fila de espera no outro mundo? Deus não abraça as<br />
crianças? Há débitos pendentes? Não estava no céu? Acho que não. Porque se<br />
estivesse no céu seria só alegria. Nenhum sufrágio seria necessário. Tenho uma<br />
enorme dificuldade em entender as coisas das religiões.<br />
Solução criativa<br />
Meu irmão foi engenheiro-chefe da Rede Ferroviária Federal, em Minas. E havia<br />
uma norma relativa ao uso dos telégrafos: somente os telegrafistas-chefes tinham<br />
permissão para telegrafar. Imagino que essa norma foi escrita para impedir abusos,<br />
namoro pelo telégrafo, recados pelo telégrafo. Pois um telegrafista-chefe e seu<br />
ajudante se encontravam numa estaçãozinha perdida na serra. E o telegrafistachefe<br />
teve um ataque de coração e morreu. O ajudante ficou numa situação<br />
impossível. De um lado, ele tinha de avisar o escritório central rapidinho do