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viver o momento intensamente. “Tempus fugit” – o tempo foge –, portanto, “carpe<br />
diem” – colha o dia. No crepúsculo, sabemos que a noite está chegando. Na<br />
velhice, sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais sábios e nos<br />
faz degustar cada momento como uma alegria única. Quem sabe que está vivendo<br />
a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...<br />
Bom lugar para uma sepultura<br />
O poeta R. S. Thomas, falando sobre o lugar que escolheria para a sua sepultura,<br />
disse o seguinte: “Ela deverá estar próxima à árvore da poesia, que é a eternidade<br />
vestida com as folhas verdes do tempo...” (“It will be found somewhere within sight<br />
of the tree of poetry, that is eternity wearing the green leaves of time”).<br />
Depressão da velhice<br />
Recebi dois e-mails que me deram grande alegria. Um deles, de uma mulher que<br />
me falava de sua mãe. O outro, também de uma mulher, falava-me sobre sua avó.<br />
A primeira me contava de sua mãe, já velha, como eu, que estava mergulhada<br />
numa profunda melancolia. Passava os seus dias com olhar perdido. Certamente<br />
pensava no fim que se aproximava. Nunca havia lido um único livro em toda a sua<br />
vida. Na tentativa de tirar sua mãe da depressão, começou a ler para ela alguns<br />
dos meus textos. Um milagre aconteceu. Ela ressuscitou. Começou a ler e agora<br />
não queria parar. A outra me contou algo semelhante. Sua avó vivia a tristeza de<br />
duas perdas: do marido e da filha. A neta teve a mesma ideia: começou a ler para<br />
a sua avó. O mesmo milagre aconteceu. Agora não parava de ler. O que teria<br />
acontecido? Talvez eu, velho, tivesse colocado em palavras coisas que estavam nas<br />
suas almas. A grande tristeza da velhice é a solidão. Lembro-me de uma tola,<br />
tentando consolar um velho de 92 anos que só vivia de saudades: “É preciso<br />
esquecer o passado! É preciso olhar para a frente!”. Mas que “para a frente” existe<br />
na alma de um velho de 92 anos? Talvez uma coisa simples e barata que possa ser<br />
feita para os velhos seja ler-lhes literatura, quem sabe poesia. A literatura nos<br />
liberta da solidão. E traz alegria.<br />
Liberdade e velhice<br />
T. S. Eliot se refere a um momento da vida quando se atinge “a liberdade íntima do<br />
desejo prático, quando se está livre da obrigação de fazer, livre das compulsões<br />
internas e externas...”. Citei esse texto de Eliot num dos meus livros. O revisor se<br />
horrorizou. Imaginou que eu havia me enganado. Corrigiu a minha tradução e