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conceição, a encarnação, a cruz, a expiação, a redenção, a salvação, o céu – todas<br />
essas doutrinas foram elaboradas em resposta à grande questão: como livrar os<br />
homens do Inferno. Se se eliminar o Inferno, o edifício inteiro implode. Agora,<br />
imaginar que Deus, que as Sagradas Escrituras declaram ser Amor, seja capaz de<br />
uma vingança tamanha, vingança eterna, contra pecadores que fizeram os seus<br />
pecados no tempo – isso me é inimaginável. Deve ser terrível acreditar num Deus<br />
assim.<br />
A sobra<br />
Da tradição cristã, então, não sobra nada? Sobra a arte. As catedrais, os vitrais, o<br />
canto gregoriano, o Messias de Haendel, os corais de Bach, as telas de Salvador<br />
Dali, de Grünenwald. A arte cristã é alimento para a minha alma, desde que os<br />
teólogos não a expliquem.<br />
Exegese<br />
Nietzsche se horrorizava ante as violências contra os textos sagrados que eram<br />
perpetradas dos púlpitos na Alemanha. Ele era filho de um pastor luterano; sabia<br />
sobre o que estava falando... Um exemplo tupiniquim, verdadeiro. O pregador<br />
falava sobre as Sagradas Escrituras. “Meus irmãos: a gente lê a Bíblia e duvida.<br />
Pois lá está escrito, acerca da volta de Jesus, nas nuvens, que ‘todo olho o verá’.<br />
Mas como é isso possível? A terra é redonda. Se ele voltar nas nuvens da China<br />
como poderemos nós, no Brasil, assistir a sua volta triunfante? Mas as Sagradas<br />
Escrituras não falham. Porque hoje, graças aos satélites e à televisão, todos<br />
poderemos assistir à volta de Cristo confortavelmente de nossas casas.” É<br />
assombroso que alguém tenha pensado e dito tal idiotice. Mais assombroso ainda é<br />
que a congregação não tenha gritado em protesto e tenha voltado mansamente no<br />
domingo seguinte, com os seus dízimos. Para isso eu tenho uma explicação: a<br />
religião põe a inteligência a dormir.<br />
Multiplicação dos pães e peixes<br />
Um outro teólogo famoso, conselheiro de poderosos, assim interpretou a estória da<br />
multiplicação dos pães e peixes: cada um da multidão que seguia Jesus tinha<br />
levado consigo o seu lanchinho particular, para uma eventual emergência. A<br />
multiplicação aconteceu porque os que haviam levado um lanchinho resolveram<br />
repartir com aqueles que não haviam levado um farnel. Daí ele salta para a<br />
magnífica conclusão: “A multiplicação dos pães é o anúncio do socialismo”. As