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fantástica. Quando digo mundo das ideias religiosas, refiro-me àquilo que os<br />
homens pensam, àquilo em que acreditam, àquilo que está dentro da sua cabeça e<br />
que é criado pelas suas fantasias. O homem cria Deus à sua imagem e<br />
semelhança. Ouvindo uma pessoa falar sobre Deus, temos acesso à sua alma.<br />
Ideias religiosas nada têm a ver com o Grande Mistério. Grande Mistério? Estamos<br />
diante do mar sem fim. Na praia, os homens começam a imaginar: o que haverá<br />
nas suas funduras? Monstros, sereias, jardins, peixes coloridos, anêmonas<br />
venenosas, cidades submersas? As ideias religiosas são as fantasias que os homens<br />
produzem diante do Grande Mistério, mar sem fim. O Grande Mistério me fascina.<br />
Mas as ideias dos homens me espantam. Não porque eles as tenham. Mas porque<br />
acreditam nelas. Confundem o que pensam com o fundo do mar! Alberto Caeiro<br />
disse de forma definitiva: “Pensar em Deus é desobedecer a Deus. Porque Deus<br />
quis que o não conhecêssemos, por isso se nos não mostrou...”. Diante do Grande<br />
Mistério, o certo é o silêncio, o não pensar.<br />
Programas evangélicos<br />
Um amigo que sofre de insônia acorda de madrugada e liga a TV num programa<br />
evangélico na esperança de que haja algum milagre para fazer dormir... Contou-me<br />
que, num desses programas, vários pastores se reuniram em torno de uma enorme<br />
taça de vidro, cheia de um óleo sagrado vindo de uma montanha também sagrada<br />
no Oriente, certamente onde a burra de Balaão pastou... (Se vocês não sabem a<br />
estória da burra de Balaão, posso adiantar que era uma burra que falava. Da<br />
mesma forma como o Grilo Falante era a consciência do Pinóquio, a burra era a<br />
consciência do seu dono, Balaão...) A seguir tomaram um pó dourado nas mãos –<br />
diziam que era pó de ouro, ele achou que era purpurina – e o jogaram dentro do<br />
óleo. Vinham os fiéis então, em fila, para mergulhar o dedo no óleo dourado e<br />
esfregar na testa, para ficarem ricos. Que coisa maravilhosa! Cristo se encarnou e<br />
morreu na cruz para que ficássemos ricos! É preciso democratizar essa bênção para<br />
que todos os pobres fiquem ricos, resolvendo-se assim o problema da pobreza e da<br />
fome no Brasil.<br />
Gosto de voar<br />
Voar me dá grande prazer e não é normal que eu sinta medo. Digo “não é<br />
normal...” porque, de vez em quando, o medo é muito grande. Eu voava de Montes<br />
Claros, norte de Minas, para Belo Horizonte. Longe a gente via, no horizonte, uma<br />
gigantesca nuvem sinistra, mistura de marrom e preto, sobre Belo Horizonte. Se eu<br />
fosse o comandante, teria embicado o avião para o aeroporto de Confins, céu azul.