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lugar para ética no tabuleiro. Há uma única pergunta: “Que movimento fazer para<br />
derrotar o adversário?”. Isso é verdadeiro para o jogo de xadrez, o jogo econômico<br />
e o jogo político. Maquiavel, Marx e Weber sabiam disso. A ética é sempre invocada<br />
pelos que estão perdendo. Não conheço caso de partido no poder que tenha<br />
invocado princípios éticos para colocar limites ao uso de seu poder. Transparência!<br />
Que lindo princípio ético! Somente um louco seria transparente! Ser transparente é<br />
ser vulnerável. E quem é vulnerável fica fraco. Maquiavel, nos seus conselhos ao<br />
príncipe, faz a seguinte pergunta: “O que é mais importante? Que o príncipe seja<br />
virtuoso ou que o príncipe pareça ser virtuoso?”. A ética responderia: “Que ele seja<br />
virtuoso, transparentemente virtuoso!”. A esperteza política responde: “Que ele<br />
pareça ser virtuoso. O que o príncipe é, na realidade, deve ser protegido dos olhos<br />
por uma cortina opaca”. O jogo de xadrez pode muito bem nos ajudar a entender o<br />
nosso momento político. Tudo se faz para “parecer ser” e tudo se faz para evitar a<br />
transparência. Compreende-se o esforço do governo para preservar a “rainha”.<br />
Afinal de contas, é a peça mais importante para proteger o “rei”... É preciso<br />
entender: ninguém é culpado. Os jogadores não têm alternativas. Eles têm de se<br />
submeter às regras. Assim é a política, sempre.<br />
Chapeuzinho Vermelho<br />
A estória de Chapeuzinho Vermelho nos ensina preciosas lições políticas.<br />
Caminhando pela floresta, Chapeuzinho, tão bobinha, acredita na fala do lobo,<br />
escondido no meio das árvores. Assim é o povão: acredita em qualquer coisa. Se<br />
duvidam, sugiro que gastem um pouco do seu tempo olhando os programas<br />
religiosos na televisão. Esses programas poderiam ser usados para avaliar o grau<br />
de inteligência e educação da população. É assombroso aquilo em que se pode<br />
acreditar! Acredita-se em tudo, desde que um milagre seja prometido. Muito mais<br />
espertos que o lobo de antigamente, os lobos de agora valem-se da mais moderna<br />
tecnologia. Contratam “produtores de imagem”. O que é um “produtor de<br />
imagem”? É um profissional de estética que faz operações plásticas na imagem do<br />
candidato de forma que ele deixe de ser o que era, naturalmente, e fique parecido<br />
com a imagem que o povo deseja. Pois o lobo, já com a vovozinha dentro da<br />
barriga – (Voz gutural: “Que grande goela a minha! Engoli a velha inteirinha!”) –,<br />
“fantasiou-se” de vovozinha. “Toc, toc, toc...”, Chapeuzinho bateu à porta. “Quem<br />
bate sem ordem minha?”, pergunta o lobo com voz grossa. “Sou eu,<br />
Chapeuzinho...” O produtor de imagem que se escondia atrás da cabeceira da cama<br />
lhe disse logo: “Mude a voz, mude a voz...”. E sua voz gutural se transforma na<br />
trêmula voz de uma velhinha indefesa: “Pode entrar, minha netinha”. Chapeuzinho<br />
conhecia a vovó muito bem. Aproxima-se da cama e, pasmem!, não percebe a