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oupa nenhuma. O que viu foi o rei pelado exibindo sua enorme barriga, suas<br />
nádegas murchas e as vergonhas dependuradas. Com uma gargalhada, deu um<br />
grito que a multidão inteira ouviu: ‘O rei está pelado!’. Fez-se um silêncio profundo,<br />
seguido por uma gargalhada mais ruidosa que a salva de artilharia. E todos se<br />
puseram a gritar: ‘O rei está nu, o rei está nu...’. O rei tratou de tapar as vergonhas<br />
com as mãos e voltou correndo para dentro do palácio.” Agora vou contar a mesma<br />
estória com um fim diferente. Ela é em tudo igual à versão de Andersen, até o<br />
momento do grito do menino. “O rei está pelado!” Fez-se um silêncio profundo,<br />
seguido pelo grito da multidão enfurecida. “Menino louco! Não vê a roupa nova do<br />
rei! Menino burro!” Com estas palavras agarraram o menino e o internaram num<br />
manicômio. Moral da estória: Em terra de cego, quem tem um olho não é rei. É<br />
doido.<br />
O corpo<br />
Quando eu era jovem, a menor unidade do meu pensamento era o universo e a<br />
eternidade. Eu vivia no mundo dos deuses. Não havia percebido que meus deuses<br />
tinham pés de barro. Seus pés se esfarelaram, eles caíram e eu fiquei mais<br />
modesto. Troquei-os pelos heróis da política. Deixei os céus para os pardais e<br />
tornei-me um habitante do mundo. O marxismo era a grande religião. Ao<br />
envelhecer, dei-me conta de que também a política era muito grande para mim.<br />
Encolhi-me mais uma vez. Voltei ao meu corpo. É no corpo que vivo meu cotidiano.<br />
O corpo só conhece o presente.<br />
China<br />
Quando um assunto se torna tema para o humor dos cartunistas é porque já se<br />
tornou objeto de uma aflição coletiva. É o caso da economia chinesa, que está<br />
crescendo de uma forma assustadora, as grandes economias industriais ricas se<br />
revelando incapazes de lidar com o perigo que as ameaça. O preço das<br />
manufaturas chinesas é imbatível. Um pequeno estojo de delicadas chaves de<br />
fenda é vendido pelo preço de três reais! É ver e querer comprar, não pela<br />
utilidade, mas pelo preço. No campo dos têxteis, de forma especial, a indústria<br />
chinesa está arrasando as competidoras. Criou-se, então, o slogan: “Say ‘No’ to<br />
chinese textiles” – “Diga ‘Não’ aos têxteis chineses”. Em meio a esse pânico, os<br />
cartunistas já estão fazendo piadas. Vi, num jornal inglês, o seguinte cartoon: uma<br />
barraca de camelô que vende camisetas com os mais diferentes slogans. O dono,<br />
ao lado, um chinês sorridente. E entre as camisetas que ele vende, uma ocupava o<br />
lugar mais visível. A mais vendida. A que lhe dava mais lucro. O slogan nela escrito