Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves
Vestibulares Teste os seus conhecimentos! Avalie suas chances! Responda essas questões: 1. Calcule o logaritmo neperiano da enésima potência da própria base. 2. O fenômeno da trissomia é provocado pela: (a) simples deleção dos cromossomos; (b) não disjunção das cromátides; (c) não reversão que ocorre na diacinese; (d) translocação do cromossoma na mitose. 3. Nos peixes cartilaginosos encontramos a tiflósolis, dobra intestinal também encontrada em: (a) poríferos; (b) platelmintes; (c) asquelmintes; (d) anelídeos; (e) moluscos. 4. Vertebrados anamniotas, tetrápodes, poiquilotermos, de respiração branquial durante a vida larvária e pulmonar, na fase adulta são: (a) répteis; (b) mamíferos; (c) anfíbios; (d) aves; (e) peixes. Se você conseguiu dar respostas corretas a essas questões isso quer dizer que você está se aproximando do Funes, o memorioso. Cuide-se. Falta sabedoria à sua memória. Ela não sabe distinguir entre o digno de ser aprendido e o indigno de ser aprendido. Acho melhor procurar um psiquiatra. Ver Walt Whitman assim descreveu suas primeiras experiências na escola: “Ao começar meus estudos me agradou tanto o passo inicial, a simples conscientização dos fatos, as formas, o poder de movimento, o mais pequeno inseto ou animal, os sentidos, o dom de ver, o amor – o passo inicial, torno a dizer, me assustou tanto, e me agradou tanto, que não foi fácil para mim passar e não foi fácil seguir adiante, pois eu teria querido ficar ali flanando o tempo todo, cantando aquilo em cânticos extasiados...”. Quebra-cabeças Gosto de armar quebra-cabeças. Nome errado. Eles não quebram a minha cabeça. Ao contrário, põem a minha cabeça no lugar. Nome mais apropriado deveria ser “junta-cabeças”. Todas as atividades que implicam arrumar, armar, juntar, montar, tecer têm uma função terapêutica. Elas ativam processos organizatórios das emoções e das ideias. Juntando as peças do meu junta-cabeça sobre a mesa vou juntando as peças do meu junta-cabeça interno. Pois eu comprei um de 1000 peças. Lindo cenário: céu azul, montanhas cobertas de neve, florestas... Comecei a armar. Mas o tempo era curto. A construção progredia lentamente. Especialmente naquelas partes de uma cor só. Fui ficando desanimado. Deixei as peças espalhadas sobre a mesa da sala por mais de um mês. Aí eu percebi que Deus
estava me ajudando. O junta-cabeça estava se formando sem a minha intervenção. Pensei logo: “Miracolo!”. Algum anjo, talvez... Que nada. Era a Jai que me ajuda, dois dias por semana, arrumando as minhas bagunças. Aí começamos a fazer apostas: quem colocaria mais peças. Chegando ao final, não tive coragem de pôr a última peça. Deixei que ela gozasse o prazer do triunfo! O que me impressionou foi a inteligência da Jai. Porque as atividades necessárias para se armar um juntacabeça colocam em ação uma série de potências intelectuais, que incluem a imaginação, a identificação gestáltica de padrões até a abstratíssima função lógica de identificar ângulos, linhas e tamanhos. Pensei que a Jai pode ser muito mais que uma faxineira. Ela só tem o segundo ano primário. Animei-a a continuar os estudos. Ela está se preparando para fazer o supletivo. Quanto ao junta-cabeça de 1000 peças está de novo na caixa, até que me disponha a medir forças com ele de novo. Pedagogia do caracol Há muitas pessoas de imaginação sensível que amam as crianças. Encontrei na revista pedagógica Cem Modialitá, que se publica na Itália (Via Piamarta 9 – 25121 – Brescia – Itália), um artigo com um título curioso: “A pedagogia do caracol”. O autor, Gianfranco Zavalloni ( www.scuolacreativa.it) conta da mãe de uma menina que o procurou e lhe relatou o seguinte: “Outro dia minha filha me disse: mamãe, os professores dizem sempre: ‘Força, crianças! Não podemos perder tempo porque devemos andar para frente!’. Mas, mamãe, para onde devemos ir? Para frente, onde?’”. Essas perguntas da menina o levaram questionar o ritmo de pressa que as escolas impõem às crianças. No seu lugar, ele propõe a pedagogia do caracol. Os caracóis não sabem o que é pressa. E ele fala de um curso de formação de professores do Gruppo Educhiamoci alla Pace di Bari sobre o tema “Na companhia do ócio, da lentidão e da poesia”. Sugere que no cotidiano dos professores com as crianças deveria haver tempo para simplesmente jogar conversa fora, conversa que não quer ensinar coisa alguma. Simplesmente ouvir as crianças é coisa muito preciosa. Elas aprendem que são importantes e que é importante ouvir as outras. Caminhar, passear, andar a pé, observando as coisas ao redor. Contemplar as nuvens. Escrever cartas e cartões a lápis ou caneta; não usar os e-mails. Plantar uma horta. Plantando uma horta, as crianças aprendem sobre os ritmos da natureza. Quem observa os ritmos da natureza acaba por ganhar equilíbrio pessoal. Plantar uma horta talvez seja uma terapia mais poderosa que a dos consultórios. A velocidade é o ritmo das máquinas. Mas nós não somos máquinas. Somos seres da natureza como os animais e as plantas. E a natureza é sempre vagarosa. É perigoso introduzir a pressa num corpo que tem suas raízes na lentidão da natureza.
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Teste os seus conhecimentos! Avalie suas chances! Responda essas questões: 1.<br />
Calcule o logaritmo neperiano da enésima potência da própria base. 2. O fenômeno<br />
da trissomia é provocado pela: (a) simples deleção dos cromossomos; (b) não<br />
disjunção das cromátides; (c) não reversão que ocorre na diacinese; (d)<br />
translocação do cromossoma na mitose. 3. Nos peixes cartilaginosos encontramos a<br />
tiflósolis, dobra intestinal também encontrada em: (a) poríferos; (b) platelmintes;<br />
(c) asquelmintes; (d) anelídeos; (e) moluscos. 4. Vertebrados anamniotas,<br />
tetrápodes, poiquilotermos, de respiração branquial durante a vida larvária e<br />
pulmonar, na fase adulta são: (a) répteis; (b) mamíferos; (c) anfíbios; (d) aves; (e)<br />
peixes. Se você conseguiu dar respostas corretas a essas questões isso quer dizer<br />
que você está se aproximando do Funes, o memorioso. Cuide-se. Falta sabedoria à<br />
sua memória. Ela não sabe distinguir entre o digno de ser aprendido e o indigno de<br />
ser aprendido. Acho melhor procurar um psiquiatra.<br />
Ver<br />
Walt Whitman assim descreveu suas primeiras experiências na escola: “Ao começar<br />
meus estudos me agradou tanto o passo inicial, a simples conscientização dos<br />
fatos, as formas, o poder de movimento, o mais pequeno inseto ou animal, os<br />
sentidos, o dom de ver, o amor – o passo inicial, torno a dizer, me assustou tanto,<br />
e me agradou tanto, que não foi fácil para mim passar e não foi fácil seguir<br />
adiante, pois eu teria querido ficar ali flanando o tempo todo, cantando aquilo em<br />
cânticos extasiados...”.<br />
Quebra-cabeças<br />
Gosto de armar quebra-cabeças. Nome errado. Eles não quebram a minha cabeça.<br />
Ao contrário, põem a minha cabeça no lugar. Nome mais apropriado deveria ser<br />
“junta-cabeças”. Todas as atividades que implicam arrumar, armar, juntar, montar,<br />
tecer têm uma função terapêutica. Elas ativam processos organizatórios das<br />
emoções e das ideias. Juntando as peças do meu junta-cabeça sobre a mesa vou<br />
juntando as peças do meu junta-cabeça interno. Pois eu comprei um de 1000<br />
peças. Lindo cenário: céu azul, montanhas cobertas de neve, florestas... Comecei a<br />
armar. Mas o tempo era curto. A construção progredia lentamente. Especialmente<br />
naquelas partes de uma cor só. Fui ficando desanimado. Deixei as peças<br />
espalhadas sobre a mesa da sala por mais de um mês. Aí eu percebi que Deus