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Para o estudo de certas profissões exige-se que o candidato passe por um exame<br />
de aptidão. É o caso da música. Não basta desejar ser músico. É preciso ter as<br />
qualificações necessárias para a profissão de músico. Eu acho que o mesmo deveria<br />
ser obrigatório para aqueles que querem ser professores. Um teste de aptidão para<br />
os candidatos ao magistério seria assim: o candidato seria solto num pátio onde se<br />
encontram muitas crianças. Se ele se enturmasse com elas, desse risadas e<br />
participasse das suas brincadeiras, seria aceito. Caso contrário, deveria procurar<br />
outra profissão, ainda que tivesse tirado dez em todas as provas teóricas.<br />
Vagareza<br />
A educação é incompatível com a pressa. O tempo da alma é vagaroso. Não gosto<br />
de visitar museus em que uma multidão me obriga a andar. O prazer que sinto num<br />
museu diante de um quadro amado não é estético. É existencial. Sinto a emoção<br />
de saber que estou bem próximo da superfície que foi tocada pelo pincel do pintor.<br />
Sinto-me, assim, perto dele. É uma experiência de comunhão: estamos próximos,<br />
partilhamos um mesmo pequeno espaço. A experiência estética, o encantamento<br />
diante da pintura, eu a tenho em casa, assentado, admirando a reprodução da tela<br />
que se encontra num livro. A admiração exige tempo. Não se admira correndo.<br />
Ninguém que me apresse. Demora um pouco para que a tela acorde, tome<br />
consciência de que estou diante dela e comece a me tocar. Desde que a pressa se<br />
instala, a alma se recolhe e somos projetados na voragem do tempo exterior.<br />
Mapas<br />
Tenho estado a pensar num aprendizado extremamente complicado que acontece<br />
sem que disso nos apercebamos: somos desenhadores de mapas. A cabeça é um<br />
arquivo de mapas. Para ir do quarto para a cozinha, a criança consulta o mapa de<br />
sua casa que ela desenhou na sua cabeça. Ela caminha sem cometer erros.<br />
Também os adultos: gavetas, armários, caixas, álbuns. Por causa do mapa da casa<br />
que temos na cabeça, ao necessitar de uma agulha, de um lápis, de um martelo,<br />
de um remédio, não saímos a procurar a esmo. Vamos diretamente ao lugar<br />
indicado no mapa. Vêm depois os mapas da redondeza, da cidade, ruas, praças,<br />
bares, restaurantes, farmácias, hospitais – tudo organizado. É dizer o nome de um<br />
lugar para que o computador espacial cerebral trace imediatamente o caminho<br />
para se chegar até lá. Cidades, estradas, país, universo. Nos céus, as constelações.<br />
Direções. Os navegadores de antigamente viam as rotas na Terra refletidas nas<br />
estrelas dos céus. Sem os mapas mentais somos crianças perdidas numa cidade<br />
grande desconhecida.