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Tribuna<br />
Péssimas novas de outubro<br />
E eis que chegamos ao mês de outubro. Que<br />
de cara nos traz péssimas (velhas) novas: cerca de um<br />
milhão de desempregados acumulados no ano, uma<br />
dívida pública que ultrapassa 2,7 trilhões (deve fechar<br />
o ano superior a 2,8 trilhões), a ameaça de aumentos<br />
de tributos e diminuições de aplicação dos mesmos<br />
em saúde, segurança e educação, constantes quedas<br />
na arrecadação, uma crise política que não dá sinais<br />
de arrefecimento, com direito a façanhas já concretizadas<br />
pela nova equipe econômica: o rebaixamento<br />
da nota de crédito do Brasil em decorrência do inédito<br />
orçamento deficitário e da falta de afinação entre<br />
si. A boa notícia é que já conseguimos chegar a outubro<br />
e... é só. Definitivamente, não está dando certo.<br />
O ajuste fiscal anunciado pelo governo em setembro,<br />
com médio impacto no corte de despesas<br />
e alto impacto na tributação, não se sustenta. Seu<br />
ponto principal, que é a recriação da CPMF, traria<br />
resultados somente no segundo semestre de 2016,<br />
quando já deveríamos estar saindo da crise econômica<br />
(da crise política não se tem notícia de quando<br />
sairemos). Ora, não seria muito melhor para implantar<br />
neste período mudanças mais estruturais como<br />
reforma da previdência e reforma tributária, com<br />
foco em diminuição dos tributos sobre consumo e<br />
renda do assalariado? Pois, mesmo que sejam aprovadas<br />
todas as medidas propostas pelo governo, elas<br />
são paliativas, não trazem melhora a longo prazo.<br />
O percentual de desempregados acima de<br />
dois dígitos, a dívida pública acima de três trilhões<br />
(alimentada por dólar e juros altos), o dólar podendo<br />
bater os cinco reais ainda em 2015, a taxa Selic<br />
asfixiando o desenvolvimento para conter a inflação<br />
e um ambiente político impeditivo de qualquer<br />
acordo prevêem uma virada de ano das mais turbulentas,<br />
principalmente em janeiro de 2016, quando<br />
o desemprego deve chegar ao seu pico. Não seria<br />
hora do governo procurar mudanças que favoreçam,<br />
ao menos em parte, o desenvolvimento e a criação<br />
de empregos? Não seria hora de pregar um pouco<br />
mais de otimismo e mostrar que existem alternativas?<br />
Há que se observar que não virão resultados<br />
com aumento de tributos se não se tem consumo<br />
ou renda adequados, uma vez que nossa tributação<br />
é lastreada em consumo e renda. Neste momento,<br />
porque não buscar uma maior eficiência na arrecadação,<br />
fechando seus gargalos e aumentando a fiscalização?<br />
Valeria até a pena olhar com mais carinho<br />
(ou apetite) para tributos como o Imposto sobre a<br />
Propriedade Territorial Rural. Aliviar a carga sobre a<br />
renda e consumo, aumentar a fiscalização e agilizar<br />
julgamentos de processos neste momento faria todo<br />
o sentido. A propósito, fechamos o mês de setembro<br />
com os julgamentos no Conselho Administrativo de<br />
Recursos Fiscais ainda parados. Está ruim a vida da<br />
administração tributária no Brasil.<br />
O governo também perdeu definitivamente<br />
a batalha da comunicação: ministros não falam<br />
a mesma língua, o que se anuncia hoje amanha se<br />
“desanuncia”, medidas como redução de ministérios<br />
(poucos impactos diretos, mas enormes indiretos e<br />
políticos) são anunciadas sem estudo prévio, discurso<br />
vacilante e mesmo temor de falar à população<br />
passam a sensação de que falta piloto no avião Brasil.<br />
Tá faltando voz firme ao governo ao mesmo tempo<br />
em que se passa uma imagem de arrogância e indiferença.<br />
O pior dos mundos.<br />
O pior é imaginarmos que ainda dá para piorar.<br />
Não, não estamos falando de pedidos de impeachment<br />
ou julgamentos de TCU ou TSE. Estamos falando<br />
que os erros cometidos pela atual equipe econômica<br />
ainda podem não ter acabado. Afinal, sempre<br />
se pode inventar mais algum. Bom, torcemos pelo<br />
contrário.<br />
www.leituradebordo.com.br | Setembro 2015 | Leitura de Bordo 17