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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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picando o lixo, cueiros molhados secando em canas — o meu fastidiosocamarada sorriu àquela liberdade e singeleza das coisas.A vitória parou em frente à larga rua de escadarias que trepa, cortandovielazinhas campestres, até à esplanada, onde, envolta em andaimes, se ergue aBasílica imensa. Em cada patamar barracas de arraial devoto, forradas depaninho vermelho, transbordavam de imagens, bentinhos, crucifixos, coraçõesde Jesus bordados a retrós, claros molhos de rosários. Pelos cantos, velhasagachadas resmungavam a ave-maria. Dois padres desciam, tomandorisonhamente uma pitada. Um sino lento tilintava na doçura cinzenta da tarde.E Jacinto murmurou, com agrado:— É curioso! Mas a Basílica em cima não nos interessou, abafada emtapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova, ainda semalma. E Jacinto, por um impulso bem jacíntico, caminhou gulosamente para aborda do terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície cinzenta,a Cidade jazia. toda cinzenta, como uma vasta e grossa camada de caliça etelha. E, na sua imobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo, mais ténue eralo que o fumear de um escombro mal apagado, era todo o vestígio visível dasua vida magnífica.Então chasqueei risonhamente o meu Príncipe. Aí estava pois a Cidade,augusta criação da Humanidade! Ei-la aí, belo Jacinto! Sobre a crosta cinzentada Terra — uma camada de caliça, apenas mais cinzenta! No entanto ainda

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