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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso fastio caíra, depoisde renovar tão bravamente todo o recheio mecânico e erudito do 202, na sualuta contra a Força e a Matéria! — E esse fastio não o escondeu mais do seuvelho Zé Fernandes, quando recomeçou entre nós a comunhão de vida e dealma a que eu tão torpemente me arrancara, uma tarde, diante da estação dosónibus, no charco da Madalena.Não eram certamente confissões enunciadas. O elegante e reservado Jacintonão torcia os braços, gemendo: «Oh vida maldita!» Eram apenas expressõessaciadas; um gesto de repelir com rancor a importunidade das coisas; porvezes uma imobilidade determinada, de protesto, no fundo de um divã, dondese não desenterrava, como para um repouso que desejasse eterno; depois osbocejos, os ocos bocejos com que sublinhava cada passo, continuado porfraqueza ou por dever iniludível; e sobretudo aquele murmurar que se tornaraperene e natural: «Para quê?» — «Não vale a pena!» — «Que maçada!...»Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grilo: — Jacintoanda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo? O venerando pretodeclarou com uma certeza imensa: — Sua Excelência sofre de fartura. Erafartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris: — e naCidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outroragritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborearplenamente a «delícia de viver», ele não encontrava agora forma de vida,espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida

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