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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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E, nessa manhã da minha libertação, ao penetrar antes de almoço no seuquarto, no sofá o encontrei enterrado, com o «Figaro» aberto sobre a barriga,a agenda caída sobre o tapete, toda a face envolta em sombra, e os pésabandonados, numa soberana tristeza, ao pedicuro que lhe polia as unhas.Decerto o meu olhar re-iluminado e repurificado, a brancura das minhasflanelas reproduzindo a quietação das minhas sensações, e a segura harmoniaem que todo o meu ser visivelmente se movia, impressionaram o meuPríncipe — a quem a melancolia nunca embotava a agudeza. Ergueumolemente um braço mole:— Então esse capricho? Derramei sobre ele todo o fulgor de um risovitorioso: — Morto! E, como o senhor de Marlborough, «morto e bementerrado». jaz! Ou antes, rola! Com efeito deve andar agora rolando pordentro do cano do esgoto!Jacinto bocejou, murmurou: — Este Zé Fernandes de Noronha e Sande!... E,no meu nome, no meu digno nome assim embrulhado num bocejo comdesprendida ironia, se resumiu todo o interesse daquele Príncipe pela sujatormenta em que se debatera o meu coração! Mas não me melindrou esseconsumado egoísmo... Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessavauma densa névoa de tédio, tão densa, e ele tão afundado na sua moledensidade, que as glórias ou os tormentos de um camarada não o comoviam,como muito remotas, intangíveis, separadas da sua sensibilidade por imensascamadas de algodão. Pobre Príncipe da Grã-Ventura, tombado para o sofá de

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