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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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estiravam sobre o tapete, se repimpavam nas cadeiras macias, se entronizavamem cima das mesas robustas, e sobretudo trepavam contra as janelas, emsôfregas pilhas, como se, sufocados pela sua própria multidão, procurassemcom ânsia espaço e ar! Na erudita nave, onde apenas alguns vidros mais altosrestavam descobertos, sem tapume de livros, perenemente se adensava umpensativo crepúsculo de Outono enquanto fora junho refulgia. A Bibliotecatransbordara através de todo O 202! — Não se abria um armário sem que dedentro se despenhasse, desamparada, uma pilha de livros! Não se franzia umacortina sem que de trás surgisse, hirta, uma ruma de livros! E imensa foi aminha indignação quando uma manhã, correndo urgentemente, de Mãos nasalças, encontrei, vedada por uma tremenda coleção de Estudos Sociais, a portado Water-Closet!Mais amargamente porém me lembro da noite histórica em que, no meuquarto, moído e mole de um passeio a Versalhes, com as pálpebras poeirentase meio adormecidas, tive de desalojar do meu leito, praguejando, um pavorosoDicionário de Indústria em trinta e sete volumes! Senti então a supremafartura do livro. Ajeitando, com murros, os travesseiros, maldisse a Imprensa,a facúndia humana... E já me estirara, adormecia, quando topei, quase parti apreciosa rótula do joelho, contra a lombada de um tomo que velhacamente seaninhara entre a parede e os colchões. Com furor é um berro empolguei,arremessei o tomo afrontoso — que entornou o jarro, inundou um tapete ricode Daghestan. E nem sei se depois adormeci porque os meus pés, a que não

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