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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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E como eu o considerava assombrado, ele, bebendo goles de Chateau-Yquem,declarou que hoje a única emoção, verdadeiramente fina, seria aniquilar aCivilização. Nem a ciência, nem as artes, nem o dinheiro, nem o amor,podiam já dar um gosto intenso e real às nossas almas saciadas. Todo o prazerque se extraíra de criar estava esgotado. Só restava, agora, o divino prazer dedestruir!Desenrolou ainda outras enormidades, com um riso claro nos olhos claros.Mas eu não atendia o gentil pedante, colhido por outro cuidado — reparandoque em torno, subitamente, todo o serviço estacara como no conto do PalácioPetrificado. E o prato agora devido era o peixe famoso da Dalmácia, o peixede Sua Alteza, o peixe inspirador da festa! Jacinto, nervoso, esmagava entre osdedos uma flor. E todos os escudeiros sumidos!Felizmente o grão-duque contava a história de uma caçada, nas coutadas deSarvan, em que uma senhora, mulher de um banqueiro, saltara bruscamentedo cavalo, num descampado, sem árvores. Ele e todos os caçadores param —e a galante senhora, lívida, com a amazona arregaçada, corre para trás de umapedra... Mas nunca soubemos em que se ocupava a banqueira, nessedescampado, agachada atrás da pedra porque justamente o mordomoapareceu, reluzente de suor, e balbuciou uma confidência a Jacinto, quemordeu o beiço, trespassado. O grão-duque emudecera. Todos seentreolhavam, numa ansiedade alegre. Então o meu Príncipe, com paciência,com heroicidade, forçando palidamente o sorriso:

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