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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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Agora porém, apesar da minha companhia, só lhe davam uma impaciência euma fadiga que desoladoramente destoava do antigo, iluminado êxtase. Comespanto (mesmo com dor, porque sou bom, e sempre me entristece odesmoronar de uma crença) descobri eu, na primeira tarde em que descemosaos Boulevards, que o denso formigueiro humano sobre o asfalto, e a torrentesombria dos trens sobre o macadame, afligiam o meu amigo pela brutalidadeda sua pressa, do seu egoísmo, e do seu estridor. Encostado e como refugiadono meu braço, este Jacinto novo começou a lamentar que as ruas, na nossaCivilização, não fossem calçadas de guta-percha! E a guta-percha claramenterepresentava, para o meu amigo, a substância discreta que amortece o choquee a rudeza das coisas. Oh maravilha! Jacinto querendo borracha, a borrachaisoladora, entre a sua sensibilidade e as funções da Cidade! Depois, nem mepermitiu pasmar diante daquelas dourejadas e espelhadas lojas que ele outroraconsiderava como os «preciosos museus do século XIX»...— Não vale a pena, Zé Fernandes. Há uma imensa pobreza e secura deinvenção! Sempre os mesmos florões Luís XV, sempre as mesmas pelúcias...Não vale-a pena!Eu arregalava os olhos para este transformado Jacinto. E sobretudo meimpressionava o seu horror pela Multidão por certos efeitos da Multidão, sópara ele sensíveis, e a que chamava os «sulcos».

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