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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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unicamente dois jatos graduados desde zero até cem; as duas duchas, fina egrossa, para a cabeça; a fonte esterilizada para os dentes; o repuxoborbulhante para a barba; e ainda botões discretos, que, roçados,desencadeavam esguichos, cascatas cantantes, ou um leve orvalho estival.Desse recanto temeroso, onde delgados tubos mantinham em disciplina eservidão tantas águas ferventes, tantas águas violentas, saía enfim o meuJacinto enxugando as mãos a uma toalha de felpa, a uma toalha de linho, aoutra de corda entrançada para restabelecer a circulação, a outra de sedafrouxa para repolir a pele. Depois deste rito derradeiro que lhe arrancava oraum suspiro, ora um bocejo, Jacinto, estendido num divã, folheava umaagenda, onde se arrolavam, inscritas pelo Grilo ou por ele, as ocupações doseu dia, tão numerosas por vezes que cobriam duas laudas.Todas elas se prendiam à sua sociabilidade, à sua civilização muito complexa,ou a interesses que o meu Príncipe, nesses sete anos, criara para viver em maisconsciente comunhão com todas as funções da Cidade. (Jacinto com efeito erapresidente do clube da Espada e Alvo; comanditário do jornal «O Boulevard»;diretor da Companhia dos Telefones de Constantinopla; sócio dos BazaresUnidos da Arte Espiritualista; membro do Comité de Iniciação das ReligiõesEsotéricas, etc.) Nenhuma destas ocupações parecia porém aprazível ao meuamigo porque, apesar da mansidão e harmonia dos seus modos,frequentemente arremessava para o tapete, numa rebelião de homem livre,aquela agenda que o escravizava. E numa dessas manhãs (de vento e neve),

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