25.08.2015 Views

A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

muito fundas, como as de um comediante cansado. Os anéis do seu cabelolanígero rareavam sobre a testa, que perdera a antiga serenidade de mármorebem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos.Também notei que corcovava.Ele erguera uma tapeçaria — entrámos no seu gabinete de trabalho, que meinquietou. Sobre a espessura dos tapetes sombrios os nossos passos perderamlogo o som, e como a realidade. O damasco das paredes, os divãs, as madeiras,eram verdes, de um verde profundo de folha de louro. Sedas verdesenvolviam as luzes elétricas, dispersas em lâmpadas tão baixas que lembravamestrelas caídas por cima das mesas, acabando de arrefecer e morrer: sórebrilhava, nua e clara, no alto de uma estante quadrada, gula, solitária comouma torre numa planície, e de que o lume parecia ser o farol melancólico. Umbiombo de laca verde, fresco verde de relva, resguardava a chaminé demármore verde, verde de sombrio, onde esmoreciam as brasas de uma lenhaaromática. Entre aqueles verdes reluzia, por sobre peanhas e pedestais, todauma Máquina sumptuosa, aparelhos, lâminas, rodas, tubos, engrenagens,hastes, friezas, rigidezas de metais...Mas Jacinto batia nas almofadas do divã, onde se enterrara com um modocansado que eu não lhe conhecia:— Para aqui, Zé Fernandes, para aqui! E necessário reatarmos estas nossasvidas, tão apartadas há sete anos!... Em Guiães, sete anos! Que fizeste tu?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!