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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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homérico... E meio adormecido, encantado, incessantemente avistava, longe,na divina Hélade, entre o mar muito azul e o céu muito azul, a branca vela,hesitante, procurando Ítaca...Depois da sesta o meu Príncipe de novo se soltava para os campos. E a essahora, sempre mais ativo, voltava com ardor aos «seus planos», a essas culturasde luxo e elegantes oficinas que cobririam a serra de magnificências rurais.Agora andava todo no esplêndido apetite de uma horta que ele concebera,imensa horta ajardinada, em que todos os legumes, clássicos ou exóticos,cresceriam, soberbamente, em vistosos talhões, fechados por sebes de rosas,de cravos, de alfazema, de dálias. A água das regas desceria por lindoscórregos de louça esmaltada. Nas ruas, a sombra cairia de densas latadas demoscatel, pousando em esteios revestidos de azulejo. E o meu Príncipedesenhara o plano desta espantosa horta, a lápis vermelho, num papel imenso,que o Melchior e o Silvério, consultados, longamente contemplaram, — umcoçando risonhamente a nuca, o outro com os braços duramente cruzados, eo sobrolho trágico.Mas este plano, o da queijaria, o da capoeira, e outro, sumptuoso, de umpombal tão povoado que todo o céu de Tormes às tardes se tornaria branco etodo fremente de asas — não saíam das nossas gostosas palestras, ou dospapéis em que Jacinto os debuxava, e que se amontoavam sobre a mesa,platónicos, imóveis, entre o tinteiro de latão e o vaso com flores.

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