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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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sumidas na sombra dos lenços pretos, desfiando longos rosários, rosnavamsurdas ave-marias, através de espaçados suspiros, tão doridos como seinconsoladamente lhes doesse a perda daqueles Jacintos. Assim, pelas várzeasentrecorridas de regueiros, lenta nos recostos dos matos, escorregando maisrápida pelos córregos pedregosos, seguia a procissão, sempre com a cruzadiante, alta e prateada, rebrilhando por vezes num breve raiozinho de solque, vagarosamente, surdia da névoa desfeita. Ramos baixos de lódão ou desalgueiro passavam uma derradeira carícia sobre o veludo dos caixões.Um regato por vezes nos acompanhava, com discreto fulgir entre as relvas,sussurrando e como rezando também, alegremente: e nos quintalinhosumbrosos, à nossa passagem, os galos, de cima das pilhas de mato, faziamsoar o seu clarim festivo. Depois, adiante da fonte da Lira, como o caminho sealongava, e desejássemos poupar o nosso velho abade, cortámos através deuma seara, já alta, quase madura, toda entremeada de papoulas. O sol radiou:sob a brisa larga, que levara a névoa, toda a messe ondulou numa lenta vagadourada, em que se balouçavam os esquifes; e, como enorme papoula, a maisvermelha, rutilava o guarda-sol de paninho logo aberto pelo sacristão paraabrigar o abade.Jacinto tocou no meu cotovelo: — Que lindos vamos! Ora vê tu a Natureza...Num simples enterrar de ossos, quanta graça e quanta beleza!

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