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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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Todas as janelas do solar rebrilhavam, com vidraças novas, bem polidas. A umcanto do pátio notei baldes de cal e tigelas de tintas. Uma escada de pedreirodescansava durante o Dia Santo arrimada contra o telhado. E, rente ao muroda capela, dois gatos dormiam sobre montões de palha desempacotada decaixotes consideráveis.«Bem», pensei eu. «Eis a Civilização!» Recolhi a égua, galguei a escada. Navaranda, sobre uma pilha de ripas, reluzia num raio de sol uma banheira dezinco. Dentro encontrei todos os soalhos remendados, esfregados a carqueja.As paredes, muito caiadas e nuas, refrigeravam como as de um convento. Umquarto, a que me levaram três portas escancaradas com franqueza serrana, eracertamente o de Jacinto: a roupa pendia de cabides de pau; o leito de ferro,com coberta de fustão, encolhia timidamente a sua rigidez virginal a um canto,entre o muro e a banquinha onde um castiçal de latão resplandecia sobre umvolume do «D. Quixote»; no lavatório pintado de amarelo, imitando bambu,apenas cabia o jarro, a bacia, um naco gordo de sabão; e uma prateleirinhabastava ao esmerado alinho da escova, da tesoura, do pente, do espelhinho defeira e do frasquinho de água de alfazema que eu mandara de Guiães. As trêsjanelas, sem cortinas, contemplavam a beleza da serra, respirando um delicadoe macio ar, que se perfumava nas resinas dos pinheirais, depois nas roseiras dahorta. Em frente, no corredor, outro quarto repetia a mesma simplicidade.Certamente a previdência do meu Príncipe o destinara ao seu Zé Fernandes.Pendurei logo dentro, no cabide, o meu guarda-pó de lustrina.

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