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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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— Ótimo!... Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia! E por estasanta gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixoremexiam as panelas, o Melchior que presidia ao bródio...— Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo! O homem ótimosorria, inteiramente desanuviado: — Pois é cá a comidinha dos rapaz daquinta! E cada pratada, que até Suas Incelências se riam... Mas agora, aqui, oSr. D. Jacinto, também vai engordar e enrijar!O bom caseiro sinceramente cria que, perdido nesses remotos Parises, osenhor de Tormes, longe da fartura de Tormes, padecia fome e mingava... E omeu Príncipe, na verdade, parecia saciar uma velhíssima fome e uma longasaudade da abundância, rompendo assim, a cada travessa, em louvores maiscopiosos. Diante do louro frango assado no espeto e da salada que eleapetecera na horta, agora temperada com um azeite da serra digno dos lábiosde Platão, terminou por bradar: — É divino! — Mas nada o entusiasmavacomo o vinho de Tormes, caindo de alto, da bojuda infusa verde — um vinhofresco, esperto, seivoso, e tendo mais alma, entrando mais na alma, que muitopoema ou livro santo. Mirando, à vela de sebo, o copo grosso que ele orlava.de leve espuma rósea, o meu Príncipe, com um resplendor de otimismo naface, citou Virgílio:— Quo te carmina dicam, Rethica? Quem dignamente te cantará, vinhoamável destas serras?

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