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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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— Estou com apetite desesperado daquela água! — declarou Jacinto,muito sério. — Também eu... Desçamos ao quintal.. hem? E passamos pelacozinha, a saber do frango.Voltámos à varanda. O meu Príncipe, mais conciliado com o destinoinclemente, colheu um cravo amarelo. E por outra porta baixa, de rigíssimasumbreiras, mergulhámos numa sala, alastrada de caliça, sem teto, cobertaapenas de grossas vigas, donde se ergueu uma revoada de pardais.— Olha para este horror! — murmurava Jacinto arrepiado. E descemospor uma lôbrega escada de castelo, tenteando depois um corredor tenebrosode lajes ásperas, atravancado por profundas arcas, capazes de guardar todo ogrão de uma província. Ao fundo a cozinha, imensa, era uma massa de formasnegras, madeira negra, pedra negra, densas negruras de felugem secular. Eneste negrume refulgia a um canto, sobre o chão de terra negra, a fogueiravermelha, lambendo tachos e panelas de ferro, despedindo uma fumarada quefugia pela grade aberta no muro, depois por entre a folhagem dos limoeiros.Na enorme lareira, onde se aqueciam e assavam as suas grossas peças deporco e boi os Jacintos medievais, agora desaproveitada pela frugalidade doscaseiros, negrejava um poeirento montão de cestas e ferramentas; e a claridadetoda entrava por uma porta de castanho, escancarada sobre um quintalejorústico em que se misturavam couves lombardas e junquilhos formosos. Emroda do lume um bando alvoroçado de mulheres depenava frangos, remexiaas caçarolas, picava a cebola, com um fervor afogueado e palreiro. Todas

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