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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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— Inabitável! — rugia Jacinto surdamente. — Um horror! Uma infâmia!...Mas depois, noutras salas, o soalho alternava com remendos de tábuas novas.Os mesmos remendos claros mosqueavam os velhíssimos tetos de ricocarvalho sombrio. As paredes repeliam pela alvura crua da cal fresca. E o solmal atravessava as vidraças — embaciadas e gordurentas da massa e das mãosdos vidraceiros.Penetrámos enfim na última, a mais vasta, rasgada por seis janelas, mobiladacom um armário e com uma enxerga parda e curta estirada a um canto: ejunto dela parámos. E sobre ela depusemos tristemente o que nos restava devinte e três malas — o meu paletó alvadio, a bengala de Jacinto, e o «Jornal.do Comércio» que nos era comum. Através das janelas escancaradas, semvidraças, o grande ar da serra entrava e circulava como num eirado, com umcheiro fresco de horta regada. Mas o que avistávamos, da beira da enxerga, eraum pinheiral cobrindo um cabeço e descendo pelo pendor suave, à maneira deuma hoste em marcha, com pinheiros na frente, destacados, direitos,emplumados de negro; mais longe as serras de além-rio, de uma fina e maciacor de violeta; depois a brancura do céu, todo liso, sem uma nuvem, de umamajestade divina. E lá de baixo, d os vales, subia, desgarrada e melancólica,uma voz de pegureiro cantando.Jacinto caminhou lentamente para o poial de uma janela, onde caiuesbarrondado pelo desastre, sem resistência perante aquele bruscodesaparecimento de toda a Civilização! Eu palpava a enxerga, dura e regelada

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