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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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encaixotar o seu velho telescópio para o usar em Tormes. Receei mesmo queno seu espírito germinasse a ideia de criar, no cimo da serra, uma Cidade comtodos os seus órgãos. Pelo menos não consentia o meu Jacinto que essassemanas da silvestre Tormes interrompessem a ilimitada acumulação dasnoções — porque uma manhã rompeu pelo meu quarto, desolado, gritandoque entre tantos confortos e formas de Civilização esquecêramos os livros!Assim era — e que vexame para a nossa Intelectualidade! Mas que livrosescolher entre os facundos milhares sob que vergava o 202? O meu Príncipedecidiu logo dedicar os seus dias serranos ao estudo da História Natural — enós mesmos, imediatamente, deitámos para o fundo de um vasto caixotenovo, como lastro, os vinte e cinco tomos de Plínio. Despejámos depois paradentro, às braçadas, Geologia, Mineralogia, Botânica_ Espalhámos. por cimauma camada aérea de Astronomia. E, para fixar bem no caixote estas Ciênciasoscilantes, entalámos em redor cunhas de Metafísica.Mas quando a derradeira caixa, pregada e cintada de ferro, saiu do portão do202 na derradeira carroça da Companhia dos Transportes, toda esta animaçãode Jacinto se abateu como a efervescência num copo de champanhe. Era emmeados já tépidos de Março. E de novo os seus desagradáveis bocejosatroaram o 202, e todos os sofás rangeram sob o peso do corpo que ele lhesatirava para cima, mortalmente vencido pela fartura e pelo tédio, num desejode repouso eterno, bem envolto de solidão e silêncio. Desesperei. O quê!Aturaria eu ainda aquele Príncipe palpando amargamente a caveira, e, quando

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