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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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Depois veio a caixa do chá entre chaleiras, lâmpadas, coadores, filtros, todoum fausto de alfaias de prata, que comunicavam a essa ocupação, tão simplese doce em casa da minha tia, fazer chá, a majestade de um rito. Prevenido pelomeu camarada da sublimidade daquele chá de Kiang-Su, ergui a chávena aoslábios com reverência. Era uma infusão descorada que sabia a malva e aformiga. Jacinto provou, cuspiu, blasfemou... Não tomámos chá.Ao cabo de outro pensativo silêncio, murmurei, com os olhos perdidos nolume: — E as obras de. Tormes? A igreja... já haverá igreja nova? Jacintoretomara o papel e a tesoura: — Não sei... Não tornei a receber carta doSilvério... Nem imagino onde param os ossos... Que lúgubre história!Depois chegou a hora das luzes e do jantar. Eu encomendara pelo Grilo aonosso magistral cozinheiro uma larga travessa de arroz-doce, com as iniciaisde Jacinto e a data ditosa em canela, à moda amável da nossa meiga terra. E omeu Príncipe à mesa, percorrendo a lâmina de marfim onde no 202 seescreviam os pratos a lápis vermelho, louvou com fervor a ideia patriarcal:— Arroz-doce! Está escrito com dois ss, mas não tem dúvida... Excelentelembrança! Há que tempos não como arroz-doce! Desde a morte da avó.Mas quando o arroz-doce apareceu triunfalmente, que. vexame! Era um pratomonumental, de grande arte! O arroz, maciço, moldado em forma de pirâmidedo Egipto, emergia de uma calda de cereja, e desaparecia sob os frutos secosque o revestiam até ao cimo, onde se equilibrava uma coroa de conde feita de

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