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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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Vaidade! Outras vezes, logo de manhã o encontrava estendido no sofá, numroupão de seda, absorvendo Schopenhauer — enquanto o pedicuro, ajoelhadosobre o tapete, lhe polia com respeito e perícia as unhas dos pés. Ao ladopousava a chávena de Saxe, cheia desse café de Moka enviado por emires dodeserto, que não o contentava nunca, nem pela força, nem pelo aroma. Aespaços pousava o livro no peito, resvalava um olhar compassivo para opedicuro, como a procurar que dor o torturaria — pois que a todo o vivercorresponde um sofrer. Decerto o remexer assim, perpetuamente, em pésalheios... E quando o pedicuro se erguia, Jacinto abria para ele um sorriso deconfraternidade — com um «adeus, meu amigo» que era «um adeus, meuirmão!»Esse foi o período esplêndido e soberbamente divertido do seu tédio. Jacintoencontrara enfim na vida uma ocupação grata — maldizer a Vida! E para quea pudesse maldizer em todas as suas formas, as mais ricas, as mais intelectuais,as mais puras, sobrecarregou a sua vida própria de novo luxo, de interessesnovos de espírito, e até de fervores humanitários, e até de curiosidadessupernaturais.O 202, nesse Inverno, refulgiu de magnificência. Foi então que ele iniciou emParis, repetindo Heliogábalo, os Festins de Cor contados na «HistóriaAugusta»: e ofereceu às suas amigas esse sublime jantar cor-de-rosa, em quetudo era róseo, as paredes, os móveis, as luzes, as louças, os cristais, osgelados, os champanhes, e até (por uma invenção da Alta Cozinha) os peixes,

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