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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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intimidade do seu perfume, Jacinto não parecia encontrar esse contentamentode alma, que entre tudo que cansa jamais cansa. Era já com a paciente lentidãocom que se sobem todos os Calvários, os mais bem tapetados, que ele subia aescadaria de Madame d'Oriol, tão suave e orlada de tão frescas palmeiras,Quando a apetitosa criatura, com dedicação, para o entreter, desdobrava a suavivacidade como um pavão desdobra a cauda, o meu pobre Príncipe puxavaos pêlos do bigode murcho, na murcha postura de quem, por uma manhã deMaio, enquanto os melros cantam nas sebes, assiste, numa igreja negra, a umresponso fúnebre por um príncipe. E no beijo que ele chuchurreava sobre amão da sua doce amiga, para se despedir, havia sempre alacridade e alívio.Mas ao outro dia, ao começar da tarde, depois de errar através da Biblioteca edo Gabinete, puxando sem curiosidade a tira do telégrafo, atirando algumrecado mole pelo telefone, espalhando o olhar desalentado sobre o saberimenso dos trinta mil livros, remexendo a colina dos jornais e revistas,terminava por me chamar, já com a preguiça triste da façanha a que se impelia:— Vamos a. casa de Madame d'Oriol, Zé Fernandes? Eu tinha marcadaspara hoje seis ou sete coisas, mas não posso, é uma seca! Vamos a casa deMadame d'Oriol... Ao menos lá, às vezes, há um bocado de frescura e paz.E foi numa dessas tardes, em que o meu Príncipe assim procuravadesesperadamente um «bocado de frescura e paz», que encontrámos, ao meioda escadaria suave, entre as palmeiras, o marido de Madame d'Oriol. Eu já o

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