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— Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe: eles que andam tão<br />
crentes nisto, alguma coisa há de ser . Mas ora o que me dá que pensar é ver<br />
que, tirado aqui o meu bom Telmo (chega- se toda para ele, acarinhando o),<br />
ninguém nesta casa gosta de ouvir falar em que escapasse o nosso bravo rei, o<br />
nosso santo rei D. Sebastião. O meu pai, que é tão bom português, que não<br />
pode sofrer estes castelhanos, e que até, às vezes, dizem que é de mais o que<br />
ele faz e o que ele fala. Em ouvindo duvidar da morte do meu querido rei D.<br />
Sebastião. Ninguém tal há de dizer, mas põe-se logo outro, muda de rosto,<br />
fica pensativo e carrancudo; parece que o vinha afrontar, se voltasse, o pobre<br />
do rei. Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe; não é, não?<br />
MADALENA<br />
— Minha querida Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas<br />
coisas que são tão pouco para a tua idade! Isso é o que nos aflige, ao teu pai e<br />
a mim; queria-te ver mais alegre, folgar mais, e com coisas menos.<br />
MARIA<br />
— Então, minha mãe, então! Veem, veem? Também a minha mãe não<br />
gosta. Oh! Essa ainda é pior, que se aflige, chora. Ela aí está a chorar. (Vai-se<br />
abraçar com a mãe, que chora.) Minha querida mãe, ora pois então! Vai-te<br />
embora, Telmo, vai-te; não quero mais falar, nem ouvir falar de tal batalha,<br />
nem de tais histórias, nem de coisa nenhuma dessas. A minha querida mãe!<br />
TELMO