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FREI LUÍS DE SOUSA

Untitled - Luso Livros

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— Não, não tenho!<br />

MADALENA<br />

— Pois tens: melhor! E és tu o que andas continuamente e quase por<br />

acinte a sustentar essa quimera, a levantar esse fantasma, cuja sombra, a mais<br />

remota, bastaria para enodoar a pureza daquela inocente, para condenar a<br />

eterna desonra a mãe e a filha! (Telmo dá sinais de grande agitação). Ora diz:<br />

já pensaste bem no mal que estás fazendo? Eu bem sei que a ninguém neste<br />

mundo, senão a mim, falas em tais coisas. Falas assim como hoje temos<br />

falado. Mas as tuas palavras misteriosas, as tuas alusões frequentes a esse<br />

desgraçado rei D. Sebastião, que o seu mais desgraçado povo ainda não quis<br />

acreditar que morresse, por quem ainda espera na sua leal incredulidade , —<br />

esses contínuos agouros, em que andas sempre, de uma desgraça que está<br />

iminente sobre a nossa família. Não vês que estás excitando com tudo isso a<br />

curiosidade daquela criança, aguçando-lhe o espírito — já tão perspicaz! — A<br />

imaginar, a descobrir. Quem sabe se a acreditar nessa prodigiosa desgraça, em<br />

que tu mesmo. Tu mesmo. Sim, não crês deveras? Não crês, mas achas não sei<br />

que doloroso prazer em ter sempre viva e suspensa essa dúvida fatal. E então<br />

considera, vê: se um terror semelhante chega a entrar naquela alma, quem lho<br />

há de tirar nunca mais? O que há de ser dela e de nós? Não a perdes, não a<br />

matas. Não me matas a minha filha?<br />

TELMO

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