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— Não, não tenho!<br />
MADALENA<br />
— Pois tens: melhor! E és tu o que andas continuamente e quase por<br />
acinte a sustentar essa quimera, a levantar esse fantasma, cuja sombra, a mais<br />
remota, bastaria para enodoar a pureza daquela inocente, para condenar a<br />
eterna desonra a mãe e a filha! (Telmo dá sinais de grande agitação). Ora diz:<br />
já pensaste bem no mal que estás fazendo? Eu bem sei que a ninguém neste<br />
mundo, senão a mim, falas em tais coisas. Falas assim como hoje temos<br />
falado. Mas as tuas palavras misteriosas, as tuas alusões frequentes a esse<br />
desgraçado rei D. Sebastião, que o seu mais desgraçado povo ainda não quis<br />
acreditar que morresse, por quem ainda espera na sua leal incredulidade , —<br />
esses contínuos agouros, em que andas sempre, de uma desgraça que está<br />
iminente sobre a nossa família. Não vês que estás excitando com tudo isso a<br />
curiosidade daquela criança, aguçando-lhe o espírito — já tão perspicaz! — A<br />
imaginar, a descobrir. Quem sabe se a acreditar nessa prodigiosa desgraça, em<br />
que tu mesmo. Tu mesmo. Sim, não crês deveras? Não crês, mas achas não sei<br />
que doloroso prazer em ter sempre viva e suspensa essa dúvida fatal. E então<br />
considera, vê: se um terror semelhante chega a entrar naquela alma, quem lho<br />
há de tirar nunca mais? O que há de ser dela e de nós? Não a perdes, não a<br />
matas. Não me matas a minha filha?<br />
TELMO