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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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Francisco José de Sousa, marido dela, era um português que enriquecera noBrasil. Tinham viajado longo tempo; e como Francisco José de Sousa tivesseido do Minho e as saudades da Pátria o não deixassem nunca, escolhera oPorto para residência.O fino trato, aliado à opulência, estimulou invejas, caprichos, competências eódios mesmo na sociedade portuense. De todas esta más paixões surdiu umbom resultado: aumentou o número dos bailes, entraram em emulação asequipagens, enriqueceram as modistas, acudiram os jornalistas a fazer ata, qualdelas mais encomiástica, dos bailes profusos e luxuosos; o Porto, enfim, poliusemais em dois anos que nos nove séculos de vida que a mitologia,vulgarmente chamada história portuguesa, lhe dá.Estava designada a noite de um baile em casa de Rita Emília, quando osconvidados receberam aviso da súbita doença de Francisco José de Sousa.Correram amigos e indiferentes a visitar o enfermo. Fui entre os segundos:achei-o prostrado e taciturno; e não vi a esposa ao pé do leito, nem naantecâmara. Perguntavam por ela as pessoas mais familiares; mas a brasileiranão recebia sequer as amigas íntimas.Grande mistério, grande burburinho, a curiosidade em ânsias, a maledicênciaespionando, a calúnia imaginosa a segredar por praças, e salas, e botequins,desaforadas conjeturas. Andou pois a difamação explicando às cegas, porvários modos, a enfermidade moral de Francisco de Sousa e a misteriosaausência de D. Rita.Quinze dias depois fecharam-se as portas e janelas da casa do brasileiro, e oscriados, quase todos despedidos, disseram que os amos tinham ido viajar.Aqui é que a curiosidade ia dando um estouro. Houve aí bisbilhoteria ilustreque se encanzinou de raiva por não poder esquadrinhar o segredo desta saída,a qual, de força, devia ter um escândalo por causa, escândalo que a hipocrisiapudera abafar ardilosamente.Havia nesta casa uma menina de dezasseis anos, órfã, muito rica, pupila dobrasileiro e filha doutro, que morrera no Brasil, quando andava em liquidação.Mariana acompanhara-os na misteriosa saída do Porto: soube-se, porém, que,ao passarem em Braga, a órfã entrara nas Ursulinas, mosteiro de educação.Esta menina era a terceira mulher rica do baile.

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