inermes —, seriam pelo seu mesmo decoro e dos poderes que os nobilitariam,obrigados a refutarem a detração ou a despirem nas praças os arminhos comque escondem o pescoço à corda de esparto.Doces e nobres quimeras!O jornalista austero será sempre um ente malsinado e odioso para todos osgovernos. Hão de expulsá-lo sempre do sacrário poluto das mercês, ondereina o ladrão laureado, que tem o segredo de abater ministros erguidos eexaltar ministros despenhados.E acrescenta Silvestre da Silva:Que outro homem há aí que se aventure a entrar na trilha daquele, queesmoreceu, afinal, diante das conveniências sociais? Serei eu...Fez bem! Partiu o braço, querendo parar o movimento da roda. Desbaratou amelhor parte do seu Património em publicações panfletárias, que não rasgamsulco algum para as searas do futuro progresso da humanidade. Criouinimigos, que nem sequer lhe tinham lido as diatribes, nem lhe podiamperdoar pelas graças do estilo — inimigos que não sabiam ler, os piores dequantos há. É o que ele fez!***Tornando ao Dr. Anselmo Sanches.Dois meses depois que fui ao baile, planeando casar-me com uma das trêsrepresentantes de ações bancárias no valor de trezentos contos para cima, viuma senhora, que devia ter sido formosa, encostada ao braço do seu marido.Trinta e quatro anos teria ou menos; mas os precoces vincos da velhicedenunciavam quarenta anos ou mais. Lá estava o fulgor dos olhos paradesmentir a denúncia das rugas, fulgor embaciado de lágrimas, mas aindavivido como clarão crepuscular quando uma barra de púrpura e ouro tinge aorla do céu. De feito, era aquela uma vida em crepúsculo da tarde; já tudo paraalém-túmulo era escuridade e pavor para a triste senhora.Chamava-se Rita e era brasileira, pura carioca, linda como todas as cariocasque não tem mais de dezoito anos.
Francisco José de Sousa, marido dela, era um português que enriquecera noBrasil. Tinham viajado longo tempo; e como Francisco José de Sousa tivesseido do Minho e as saudades da Pátria o não deixassem nunca, escolhera oPorto para residência.O fino trato, aliado à opulência, estimulou invejas, caprichos, competências eódios mesmo na sociedade portuense. De todas esta más paixões surdiu umbom resultado: aumentou o número dos bailes, entraram em emulação asequipagens, enriqueceram as modistas, acudiram os jornalistas a fazer ata, qualdelas mais encomiástica, dos bailes profusos e luxuosos; o Porto, enfim, poliusemais em dois anos que nos nove séculos de vida que a mitologia,vulgarmente chamada história portuguesa, lhe dá.Estava designada a noite de um baile em casa de Rita Emília, quando osconvidados receberam aviso da súbita doença de Francisco José de Sousa.Correram amigos e indiferentes a visitar o enfermo. Fui entre os segundos:achei-o prostrado e taciturno; e não vi a esposa ao pé do leito, nem naantecâmara. Perguntavam por ela as pessoas mais familiares; mas a brasileiranão recebia sequer as amigas íntimas.Grande mistério, grande burburinho, a curiosidade em ânsias, a maledicênciaespionando, a calúnia imaginosa a segredar por praças, e salas, e botequins,desaforadas conjeturas. Andou pois a difamação explicando às cegas, porvários modos, a enfermidade moral de Francisco de Sousa e a misteriosaausência de D. Rita.Quinze dias depois fecharam-se as portas e janelas da casa do brasileiro, e oscriados, quase todos despedidos, disseram que os amos tinham ido viajar.Aqui é que a curiosidade ia dando um estouro. Houve aí bisbilhoteria ilustreque se encanzinou de raiva por não poder esquadrinhar o segredo desta saída,a qual, de força, devia ter um escândalo por causa, escândalo que a hipocrisiapudera abafar ardilosamente.Havia nesta casa uma menina de dezasseis anos, órfã, muito rica, pupila dobrasileiro e filha doutro, que morrera no Brasil, quando andava em liquidação.Mariana acompanhara-os na misteriosa saída do Porto: soube-se, porém, que,ao passarem em Braga, a órfã entrara nas Ursulinas, mosteiro de educação.Esta menina era a terceira mulher rica do baile.
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