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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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páginas; mas, sobre ser deslealdade à memória do autor, seria supor que os homens sinceramente honestos doPorto se ofendem da sátira que reverbera os velhacos. O que eu quisera concertar é o desmancho de ideiasdeste capítulo; não posso, nem sei o que ele pensava, nem porque estava assim assanhado contra a sociedadeportuense. Devia de ser escrita esta objurgatória no fim de algum trimestre, quando o proprietário do jornallhe intimou silêncio.]O mundo é péssimo; há, porém, providência nesta péssima organização.A hora certa, dentre as flores da vida, cultivadas por mão ilesa de espinhos,salta a víbora, que a morde.Não há felicidade completa para a verdadeira honra: menos a haverá para afalsa.A virtude, conquanto escudada por si própria, é vulnerável, porque se dói aosgolpes da injustiça.Ora, a hipocrisia, estribada na manha e na fraudulência, há de, em desaire dajustiça de Deus, rebater os tiros da indignação? É impossível. Embora o látegonão fira uma fibra sensível nas espáduas do fariseu abroquelado pelaimpostura; embora a sátira recue espavorida dessas almas impermeáveis àvergonha, é preciso que se escreva um livro, ou se delineiem os traços desselivro, o único, o urgente, o possível, o capitalíssimo para o Porto.Cansei-me de ouvir dizer que a segunda cidade de Portugal é um enxame demoedeiros falsos, de contrabandistas, de mercadores de negros, deexportadores de escravos e de magistrados de alquilaria. Venalidade, crueza elatrocínio são três eixos capitais sobre que roda, no entender da críticamordente, o maquinismo social de cem mil almas.A minha análise aprofunda mais o espírito vital do Porto.Ali, o viver íntimo tem faces desconhecidas ao olho da polícia e da economiasocial. Conhecem-se as librés dos chatins de negros; discrimina-se pelo brasãoo fabricante de notas falsas do outro seu colega heráldico, opulentado emroubos ao fisco; ignora-se, todavia, o mais observável e ponderoso dabiografia desses vultos, que a fortuna estúpida colocou à frente dos destinos eda civilização do Porto.Ó cidade dos livres, que é da liberdade dos teus escritores?Se aí há homem de alma, que sacode os sapatos na testeira da riqueza bruta,que testemunho nos dá da sua independência?

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