A esposa diz que já n'alma lhe dóiSaudades do teatro italiano,E do primo doutor... grande magano .***Acabo de demonstrar que é débil, se não impossível, armar romance com asmeninas do Porto. Pode ser que este aranzel de coisas nunca faça gemer osprelos do meu país; porém, quem me diz a mim que eu não tenha o póstumoregalo de ser impresso e lido? Nesta hipótese, com que a vaidade se incha,quisera eu vestir a nudez dos meus contos, enfeitá-los com as joias do estilo,que dão realce aos assuntos frívolos, e recompor mais literalmente comembelecos de imaginação as securas da verdade, dura de engolir neste tempo,se o engenho não a arrebica de pechisbeques e desvarios da natureza.A viúva, bem aproveitada, podia dar alguns capítulos. Tolice tinha ela de maissaciar o espírito público, sempre faminto de ver em letra redonda as tolicespróprias às costas alheias. Se eu tivesse sido mais moderado na minhalinguagem, a criatura dava um livro; mas a minha razão, inconciliável com asparvoiçadas da milionária, saiu com aquela pergunta do caldo de repolho, maispara castigar os seus admiradores que para chasquear a tola. Bem pode ser queesta senhora, se fosse pobre, tivesse o siso comum, que o dinheiro produzmilagres de variados feitios: a certas pessoas pule-as, espiritualiza-as, dá-lhesestilo sentencioso e inspiração para falarem de tudo com público aplauso; aoutras pessoas despoetiza- as, materializa-as e embrutece-as. Conheçoexemplos de tudo, e o leitor também.A viúva, segundo me consta, antes de casar, era uma menina como são todasas meninas. Tinha os seus namoros, a quem respondia com bonita letra, epensamentos, se não engenhosos, pudibundos. Casou com u riquíssimo velhopor escolha dos seus pais e condescendência sua. Fez as delícias do esposo, eas próprias, comendo e dormindo para ter sempre as faculdades do coraçãoem torpor. Enviuvou ao sétimo ano de casada, quando da sua primeiranatureza já não tinha vislumbres. Soube então que era riquíssima e requeridapelos homens notáveis da terra, e continuou a comer e a dormir. Porém,como os pés lhe inchassem por falta de exercício, e os médicos a mandassem
passear e agitar-se, a viúva apareceu de repente nos passeios, nos bailes e nosteatros, onde adormecia do segundo acto em diante. Dispararam-lhe àqueima-roupa as mais incendiárias declarações, e ela ouviu-as a dormir,enquanto a não incomodaram. Depois, como a pusessem em cerco e não adeixassem tomar fôlego, a mulher despegou em despropósitos e rusticarias,que a tornaram mais amável aos concorrentes. Aqui está o que era a viúva.Assestei o olhar à terceira, à menina que tinha aspeto de serafim de tribuna deigreja. Disseram-me logo que o Dr. Anselmo Sanches a requestavatraiçoeiramente. Ora, o Dr. Anselmo Sanches era um homem honesto.Convém saber que em toda a parte do mundo sublunar a honestidade soa comohipocrisia velhaca.O homem honesto dali é o que logra embair a opinião pública; recatar aimpudência com o exterior sisudo da catadura; acentuar a expressão no tomsentencioso do preceito; contar com a mobilidade do globo visual para orevirar ao céu, quando o ânimo afeta confranger-se com a notícia de umescândalo; franzir os beiços e avincar a testa, se é forçoso chancelar com votocominativo a pena de alguma imoralidade a retalho.Conheci alguns homens honestos no Porto. Custou-me muito. Venci, para vêlosao pé, estorvos desanimadores. Fez-me mister iniciar-me nos arcanos dadesonestidade para entrar no segredo de certas existências que, dantes, mepareciam bem fadadas da virtude, ou dotadas de compleição refratária aovício. Quando me avistei com eles na mesma zona, senti-me corrompido,escorria-me do coração o pus tábido das chagas; dei como impossível oregenerar-me diante do meu próprio senso íntimo; estava ou devia estarperdido, porque julguei necessária à vida a hipocrisia cínica.É que, sem ter descido as escaleiras todas da protérvia e do opróbrio, não sedevassa o latíbulo em que se encovam os homens honestos.A corrupção periódica das almas, empestadas pelo exemplo, ou impelidas peloinstinto, não tem que ver com a corrupção por grosso, que o acaso ou o ardilvos depara no secreto viver dessa cabilda de beduínos, salteadores da honraalheia, e nojentíssimos farsistas da sua (*).[(*) Aqui está uma amostra das desordenadas imprecações de Silvestre contra a sociedade. Escreveu-asprovavelmente durante a passagem da cabeça ao estômago. A trovoadas tais de estilo é o que andavamsacrificados todos os jornais em que ele escrevia. Era impossível que o assinante, no fim do trimestre, nãorecebesse o cobrador do jornal como a última palavra do insulto. pela minha vontade, podava muito destas
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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