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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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minhas faculdades regidas pela cabeça. As cabeças de alguns ministros,quando não tivessem outro préstimo, nem provassem outra coisa, muitopuderam, convencendo-me da minha aptidão para os cargos superiores darepública. Eu conhecia na intimidade uns homens de inteligência espalmada ecabeça escura como o cano de uma bota; homens sem ciência nemconsciência; rebotalhos da humanidade, arremessados à margem pela torrentecaudal das transformações sociais; espíritos tolhidos de gota, sem saudades,sem crenças, nem aspirações; entulhos de má morte, que atravancavam todo oprogresso e escarneciam com gosmento sorriso as expansões atrevidas dageração nova que a cada passo queria arvorar um marco de adiantamento.Conheci estes homens, e conheci-os ministros da coroa, sopesando debaixodos pés chumbados à terra, que ameaçava engoli-los, a explosão das ideias e opeito da mocidade que se afrontava com o possante atleta da rotina.Comecei a publicar uma série de artigos contra os velhos, e disse mesmo queera necessário matá-los, como na Índia os filhos faziam aos pais inválidos parao trabalho. Estes artigos criaram os meus créditos de estadista, e muitassimpatias. Escrevi o panegírico da geração nova, se bem que a geração novanão tinha feito coisa nenhuma. Disse que a mocidade estava a rebentar decometimentos grandiosos em serviço dos interesses materiais do País. Todosos meus artigos falavam em cometimentos grandiosos e interesses materiaisdo País.Naquele tempo fui convidado a alistar-me na maçonaria, e, depois de prestaros juramentos terríveis sobre uma bainha de espada, único objeto do ritualque então apareceu, fui proposto para orador da loja, e aí fiz os meus ensaiosde eloquência sanguinária, pedindo diferentes cabeças, como quem pedeconfeitos pela Semana Santa. Os meus irmãos ouvintes, que tinham quetinham todos uns nomes de guerra medonhos, tais como Átila, Gengiscão eAlarico, tomaram-me tamanho medo que me foram denunciar à polícia comodemagogo e me exautoraram das funções da palavra.Assanhado pelos estorvos, que me embargavam o passo, escrevi contra aestupidez da geração nova, que não valia mais que a velha, e chamei os povosàs armas. O ministério público deu querela por abuso de liberdade deimprensa contra o jornal, cujo redator principal era eu. O jornal foicondenado e os assinantes não pagaram no fim do segundo trimestre.Empenhei a minha casa para sustentar a gazeta, que três vezes foi condenadana multa e custas. A final, quando me vi exaurido de recursos e cansado de

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