Pouca gente alcança os limites do desarranjo que estes envenenadoresimpunes causam nos costumes e na transmissão da espécie.Estas mulheres desassisadas, que se imolam aos caprichos de uma literatura,por não terem coisa séria em que empreguem a imensa energia do seu espírito,quando tornam a si, e se correm da sua inépcia, tarde vem o arrependimento,que, nos melhores anos, deram cabo das melhores forças. Obrigadas aviverem nos limites da razão, casam-se, e curam de reconstruir o edifíciodesconjuntado da saúde, comendo e bebendo e dormindo regularmente; masas molas digestivas já têm então perdido as suas forças; os glóbulos cruóricosdo sangue não se retingem jamais; as pulsações batem frouxas; o ar filtra aopulmão por canais obstruídos; e não há contrapor à segunda natureza,formada por molestos artifícios, cuidados medicinais, que vinguem a antigacompleição deteriorada. Que frutos quereis que desentranhem estas árvoresmeladas e desmeduladas? Frutos pecos e outoniços, filhos enervados, e comoflores mimosas fenecidas ao autor do sol, que lhes cai a prumo em plena vida.Estas meninas de quinze anos, que eu hoje conheço no Porto, são as filhasdas robustas donzelas, que me enchiam de satisfação os olhos na minhamocidade. Que degeneração! Vê -las numa sala é ver as virgens lagrimosas elívidas, que se pintam nas criptas dos mosteiros góticos. Que tristeza de olhare que dengoso fastio no falar! Quando se reclinam nas almofadas de um sofáparece que desmaiam narcotizadas; quando polcam, e se deixam ir arrebatadasnos braços dos parceiros, afigura-se-me que da sua parte não há mais açãonem movimento que o das asas, do ar que lhe agita a orla do vestido, volátil evaporoso como éter. Que degeneração!Ó mulheres do Porto, ó virgens saudosas da minha mocidade, ó santas danatureza como Deus as fizera, que é feito de vós, que fizeram de vós osromances, e o vinagre, e a Lua, e o pó de telha, e as barbas do colete, e osjejuns, e a ausência completa do boi cozido, que as vossas mães antepuseramàs mais legítimas e respeitáveis inclinações do coração?!***Naquele tempo, os meus pensamentos eram todos dirigidos por cálculos eraciocínios. O meu alvo mais remoto era ser ministro da coroa. Estavam as
minhas faculdades regidas pela cabeça. As cabeças de alguns ministros,quando não tivessem outro préstimo, nem provassem outra coisa, muitopuderam, convencendo-me da minha aptidão para os cargos superiores darepública. Eu conhecia na intimidade uns homens de inteligência espalmada ecabeça escura como o cano de uma bota; homens sem ciência nemconsciência; rebotalhos da humanidade, arremessados à margem pela torrentecaudal das transformações sociais; espíritos tolhidos de gota, sem saudades,sem crenças, nem aspirações; entulhos de má morte, que atravancavam todo oprogresso e escarneciam com gosmento sorriso as expansões atrevidas dageração nova que a cada passo queria arvorar um marco de adiantamento.Conheci estes homens, e conheci-os ministros da coroa, sopesando debaixodos pés chumbados à terra, que ameaçava engoli-los, a explosão das ideias e opeito da mocidade que se afrontava com o possante atleta da rotina.Comecei a publicar uma série de artigos contra os velhos, e disse mesmo queera necessário matá-los, como na Índia os filhos faziam aos pais inválidos parao trabalho. Estes artigos criaram os meus créditos de estadista, e muitassimpatias. Escrevi o panegírico da geração nova, se bem que a geração novanão tinha feito coisa nenhuma. Disse que a mocidade estava a rebentar decometimentos grandiosos em serviço dos interesses materiais do País. Todosos meus artigos falavam em cometimentos grandiosos e interesses materiaisdo País.Naquele tempo fui convidado a alistar-me na maçonaria, e, depois de prestaros juramentos terríveis sobre uma bainha de espada, único objeto do ritualque então apareceu, fui proposto para orador da loja, e aí fiz os meus ensaiosde eloquência sanguinária, pedindo diferentes cabeças, como quem pedeconfeitos pela Semana Santa. Os meus irmãos ouvintes, que tinham quetinham todos uns nomes de guerra medonhos, tais como Átila, Gengiscão eAlarico, tomaram-me tamanho medo que me foram denunciar à polícia comodemagogo e me exautoraram das funções da palavra.Assanhado pelos estorvos, que me embargavam o passo, escrevi contra aestupidez da geração nova, que não valia mais que a velha, e chamei os povosàs armas. O ministério público deu querela por abuso de liberdade deimprensa contra o jornal, cujo redator principal era eu. O jornal foicondenado e os assinantes não pagaram no fim do segundo trimestre.Empenhei a minha casa para sustentar a gazeta, que três vezes foi condenadana multa e custas. A final, quando me vi exaurido de recursos e cansado de
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O amor inventou-o depois o estragam
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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Vi-o na Foz, e conheci então a Sra
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Ó tempos patriarcaisDeixai que pos
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