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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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me que qualquer menina sem mancha na sua reputação e com um bom dotese devia dar por bem-aventurada com tal marido.Casei.Acredite que eu não tive um mês de contentamento. Sou obrigada a crer quehá em mim desgraça contagiosa. Augusto transfigurou-se, se não era hipócrita;ou o demónio do meu destino lhe entrou no espírito para me atormentar semtréguas, nem fim. Eu não posso demorar-me a contar-lhe pelo miúdo odesconcerto em que vivemos. Augusto era libertino, dissipador, jogador, e atéembriagado o vi muitas vezes. Como se explica esta mudança, a não ser pelaprecisão de mudar-se tão espantosamente um homem que devia ser o meuflagelo?! Mas Porquê? Em que era eu criminosa para tal castigo? Que malfizera eu a Deus ou à sociedade? Não fui causa a que o barão deixasse amulher, porque já a tinha abandonado quando me levou para si. Fui boa coma minha mãe e com as minhas irmãs. Lembra-me agora se o meu crime erapossuir alguns contos de réis das joias que me tinham sido dadas, e que euescondi aos direitos da herdeira. Mas a minha desonra e repulsão dentre aspessoas virtuosas não valia alguma coisa?Seriam as joias, seriam, meu amigo... É certo que o meu marido em dois anosdissipou tudo, tudo. As inscrições vendeu-as; o resto dos braceletes, anéis,cadeias, relógios, tudo com razão ou sem ela, com violência ou brandura, melevou de casa. Restavam-me os móveis, quando, depois de esperar três diaspor Augusto, recebi dele uma carta em que me dizia adeus para sempre. Nãosei se saiu do País, se se matou. Há três anos que o não vi, nem os seuscondiscípulos tiveram noticias dele.Ficaram comigo três irmãs, e a minha mãe na sua casa, vivendo da mesada queeu lhe dera até ao fim, já quando a furtava à boca e à decência do vestir.Chamei minhas irmãs, que eram já mulheres, e disse-lhes que era necessáriomorrermos todas. Ouviram-me espavoridas. Disse-lhes que a morte erasimples e rápida se acendêssemos dois fogareiros num quarto e fechássemosportas e janelas. Lançaram-se a mim a chorar. Não queria morrer.Fui vendendo a roupa e os móveis. Perto estava já o dia da fome irremediável,quando fui convidada a procurar em determinada casa um homem quedesejava tirar-me da miséria. A encarregada deste convite era uma mulher quetinha estabelecimento público de infâmia. Fui?... Fui... O meu amigo, porqueminhas irmãs tinham vendido na véspera as suas camisas e a minha mãe já trêsvezes tinha vindo à minha porta pedir esmola com um ar de zombaria que me

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