Outro bardo, que tem na terra amores:“Minha Elisa, o teu segredoNão no sei;Nem na voz do arvoredoAdivinhei...., querida!, diz-mo cedo,Diz-mo, querida,Pela vida!Se não dizes,Morrerei!”No número de ébrios que inspiram compaixão às almas flexíveis estava eu.Quem tiver lido as minhas desventuras e pesado, nas cordas sensíveis do seupeito, as embaçadelas (por não dizer sempre desapontamentos) que apanheina curta primavera da minha vida, decerto me desculpa do asqueroso vício deque me sinto assaz castigado pelas inflamações de vísceras que a miúdo meatormentam. A imagem de Paula não me parecia como visão que da mulherque nos abandonou enfastiada e talvez chorasse por não poder amar-nos!Deus sabe quanto dói à criatura que amaldiçoamos o tédio que as nossasmeiguices, e lágrimas, e ciúmes, lhe causam!Comecei por beber licor de hortelã-pimenta e acabei no abismo estreme. Aminha embriaguez era pacífica e até certo ponto catedrática. Eu me explico. Seo auditório me favorecia, deixava-me ir em discursos sobre a filosofia dahistória, alternados com outros discursos sobre a história da filosofia. Estasmatérias, que a todo o homem, em estado normal, se figuram áridas einsípidas, a mim pareciam- me deleitosas e lucidíssimas; e os ouvintes, salva alisonja, mostravam-se igualmente admirados que instruídos. Não poderemosinferir daqui o facto de que as ciências de certa transcendência as devemos àalucinação de certas cabeças?, e que o espírito humano, sem o complementode outros espíritos, cuja imortalidade ninguém discute, há de sentir sempre aestreiteza dos seus limites? Não discorro agora a este respeito, porque beboágua há dois anos.
Numa dessas noites de exorbitância intelectual, como o auditório meabandonasse, saí do Marrare das Sete Portas e fui ver a Lua, que crispava decintilantes escamas a superfície prateada do Tejo. Eram onze horas. Num dosbancos que adornam o Cais do Sodré vi sentada uma mulher, que trajava deescuro e apoiava a cabeça entre as mãos, que, ao revérbero de um candeeiro,pareciam de alabastro, amarelecido de anos.Aproximei-me dela, parei com quanta firmeza as pernas me permitiam, edisse-lhe:— Mulher!E ela, voltando para mim a face pálida, encarou-me e não respondeu.— Mulher! — tornei, encostando-me ao peitoril do cais para manter adignidade e aprumo do discurso.— Que quer? — respondeu ela.— Que tens tu com as magnificências da noite? Que segredos vens tudizer às estrelas, que o Criador fizera tuas irmãs na formosura do brilho? Se tedespenhaste da tua inocência, que queres tu deste céu que só verte o orvalhoconsolador no seio das criaturas afligidas sem mancha, das padecentes semculpa, ou das infames com dinheiro?Pouco mais ou menos, foi isto o que lhe disse, que me lembre; o restante, anão ser discurso sobre a história filosofia.O mais que me lembra é que, às cinco horas da manhã desse dia de Agosto, amulher do Cais do Sodré ia comigo numa carruagem e respirava o arbalsâmico da estrada de Sintra.***— Conta-me a tua história, Marcolina, antes que eu perca a razão, para lhedar valor. A embriaguez, quando não é insultuosa, é pouco persistente nossentimentos generosos. Faz-me compadecer de ti e darás à minha vida rumonovo, ou pelo menos uma ideia útil e própria de homem que ainda temintervalos de encontrar-se na consciência. Tu choraste, quando viste árvores eflores; pediste- me que te deixasse morrer lá em cima entre as fragatas da
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O amor inventou-o depois o estragam
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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