CONCLUSÃOQuando voltei a Lisboa, rara pessoa encontrei que me não contasse o sucessocom a hediondez natural das suas cores e com as outras exageradas, que amaledicência folga de carregar.O mestre-escola, depois de alguns meses de prisão, foi mandado embora, semser julgado; mas na cadeia passou a bordo de uma galera, que o desembarcouno Rio de Janeiro. É de crer que o fidalgo, para se forrar à vergonha dosdebates no tribunal, perdoasse ao réu e conseguisse que o ministério públiconão achasse provas para a querela.Pelo mesmo tempo, D. Paula casou com o primo que lhe fora destinadodesde a puerícia e tornou para o palácio de Benfica, em companhia do seumarido e já com um menino robusto, não obstante ter nascido tão sem tempoque ninguém pensou que vingasse. Dizia a avó de Paula que semelhanteprodígio não era novo na sua família, porque ouvira sempre dizer que osprimogénitos da sua linhagem quase todos nasciam antes dos seis meses deincubação. Coisa notável!Vi Paula no teatro: no seu camarote entravam as pessoas de mais brilho nasociedade lisbonense, e cortejavam-na com reverência igual à adoração.Vi Paula nos bailes: os grandes do reino, os milionários, os anciãos reputadosmodelos de honra e austeridade, honravam-se de lhe darem o braço e de securvarem a apanhar-lhe o leque do chão.Vi o nome de Paula inscrito na lista das damas que socorrem os aflitos, peloamor de Deus, e se chamam, na linguagem dos localistas, as segundasprovidências na Terra.Vi, finalmente, que D. Paula era a mulher que o mundo respeitava, semembargo do conde, e dos amigos íntimos do conde, e do mestre-escola, únicobode expiatório de tamanhas patifarias!
CAPÍTULO IIIA MULHER QUE O MUNDO DESPREZANaquele tempo li eu que Alfredo de Musset e Espronceda, poetas de altosespíritos, atordoavam as suas dores com a embriaguez, o primeiro porqueamava uma literata anfíbia, o segundo porque o alanceavam remorsos de terdesgraçado uma Teresa, que morrera de paixão, por isso mesmo que não eraliterata.Era então moda a vinolência, particularmente na academia universitária, ondeos mancebos de mais poesia de alma e arremessos de “aspirações grandiosas”,como então se dizia, protestavam contra a estreiteza do âmbito, em que oséculo lhes apertava as faculdades, dilatando os fictícios horizontes da vida,até onde o vinho da bairrada, a genebra e o conhaque permitiam. Verdade éque nem sempre os ébrios podiam justificar a sua degradação com anecessidade de afogarem os desalentos e dissabores da existência nas copiosaslibações. Uns embriagavam-se para darem em espetáculo de admiradores acapacidade do seu estômago, e bebiam por alguidares; outros contavam aosseus amigos uma história tenebrosa de amor, que lhes matara a esperança e osinfernara para sempre: a história prefaciava de ordinário a emborcação de umagarrafeira. Os auditores do infausto rapaz levavam-no depois à cama, onde eledigeria o seu vinho e a sua angústia suprema.Eu conheci um deles infelizes, que era meu conterrâneo e passava emCoimbra por ter sido ultrajado na sua nobre alma pela mulher de cujos lábiosfementidos recebera a morte. Alguns poetas cantaram-no, praguejando ainfame que lhe apunhalara o coração. Da história, que ele referia em tom cavo,a verdade nua era que ele viu a sobrinha de um abade numa romaria eofereceu-lhe cavacas, que ela não aceitou, porque o abade lhes não tirava oolho de cima. Ajunte-se a isto que ele foi à aldeia da Sra. Joaninha com opropósito de lhe falar em fugirem para um deserto; mas a pequena, comoandasse atarefada com a matança dos cevados, não lhe deu trela. Por último, omeu vizinho ainda lá tornou numa noite de esfolhadas; porém, o abade,desconfiado, como pássaro bisnau que era, deu sobre o académico com umafoice roçadoira, e o académico fugiu com tanta pressa e felicidade que algumsanto estava a pedir por ele. Em consequência disto é que o bacharel seembriagava, como Alfredo de Musset e Espronceda.
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deliciosa para o olfato. Segue-se u
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excruciei a estúpida ferocidade co
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de foguetes de três estalos, e eu
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O amor inventou-o depois o estragam
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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