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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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CONCLUSÃOQuando voltei a Lisboa, rara pessoa encontrei que me não contasse o sucessocom a hediondez natural das suas cores e com as outras exageradas, que amaledicência folga de carregar.O mestre-escola, depois de alguns meses de prisão, foi mandado embora, semser julgado; mas na cadeia passou a bordo de uma galera, que o desembarcouno Rio de Janeiro. É de crer que o fidalgo, para se forrar à vergonha dosdebates no tribunal, perdoasse ao réu e conseguisse que o ministério públiconão achasse provas para a querela.Pelo mesmo tempo, D. Paula casou com o primo que lhe fora destinadodesde a puerícia e tornou para o palácio de Benfica, em companhia do seumarido e já com um menino robusto, não obstante ter nascido tão sem tempoque ninguém pensou que vingasse. Dizia a avó de Paula que semelhanteprodígio não era novo na sua família, porque ouvira sempre dizer que osprimogénitos da sua linhagem quase todos nasciam antes dos seis meses deincubação. Coisa notável!Vi Paula no teatro: no seu camarote entravam as pessoas de mais brilho nasociedade lisbonense, e cortejavam-na com reverência igual à adoração.Vi Paula nos bailes: os grandes do reino, os milionários, os anciãos reputadosmodelos de honra e austeridade, honravam-se de lhe darem o braço e de securvarem a apanhar-lhe o leque do chão.Vi o nome de Paula inscrito na lista das damas que socorrem os aflitos, peloamor de Deus, e se chamam, na linguagem dos localistas, as segundasprovidências na Terra.Vi, finalmente, que D. Paula era a mulher que o mundo respeitava, semembargo do conde, e dos amigos íntimos do conde, e do mestre-escola, únicobode expiatório de tamanhas patifarias!

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