— Vou — respondi —; mas, se tu és homem de coração, como creio, dáescápula aos infelizes, que se amam: não queiras sobre o coração aresponsabilidade de dois suicídios. Não achas horrível a prisão para ele e umconvento para a pobre menina? Que lucro tira a moral pública de redobrar oescândalo e juntar à vergonha uma inútil barbaridade?!— Mas que queres tu que eu faça?— Que vás à estalagem, que finjas a busca e por portas travessas deixesfugir a mulher, que a lei chama raptada, e o rapaz, que bem pode ser que, emvez de roubador, seja ele o verdadeiramente roubado. As vossas leis sãoassim... Uma mulher foge pela porta ou pela janela da casa paterna; mandaadiante as trouxas do seu fato; amua-se contra a frieza do amante, se ele lhefaz reflexões para a conter em casa; vai ter, afinal, com ele, dizendo que já nãopode esconder aos olhos da mãe o caro penhor que lhe palpita no seio. Opobre rapaz, obrigado pela honra, pela compaixão e pelo amor dela e do caropenhor, foge também aos pais e vai caminho de Santarém ou de outra parte.Vem depois atrás deles a lei, e diz: “Esta menina foi roubada aos pais; estehomem é o raptor desta inocente, que vai violentada como a Fátima deGonçalo-Hermigues, o Traga-Mouros.” E depois...— Apanha as velas ao discurso, que não há tempo — atalhou o meuamigo.— Vamos à Felícia, e lá veremos. Se tiverem ares de se amarem como nosromances, a minha misericórdia administrativa velará o escândalo.Fomos à estalagem. Eram nove horas da noite.A Sra. Felícia, interrogada pela autoridade, revelou que tinha na sua casa, hádois dias e duas noites, um sujeito e uma senhora, que se diziam casados enunca saíam do seu quarto. Ordenou o administrador que os fosse chamar àsala, em observância de uma ordem da autoridade.Meia hora depois entrou na sala o sujeito e a dama. Céus! Expedi do peitoinvoluntariamente um ai agudíssimo, levei as mãos aos olhos e caí numacadeira, que ia caindo comigo.Era Paula! Oh!... Paula!Reinou profundo silêncio alguns minutos na sala. Quando me recobrei doespasmo, ergui-me e saí, sem encarar na desgraçada.
***Na desgraçada — disse eu!... Que adjetivos tão tolos tem a nossa boa-fé paraadaptar a certas mulheres que trazem a desgraça e a opinião pública sovadaaos pés!O meu amigo, voltando às onze horas da noite, achou-me febril, e assistiu- meaté à madrugada com todos os recursos da medicina.No dia seguinte, sossegando o pulso, contou-me assim o seguinte dadiligência:— Declarou Paula de Albuquerque que não era raptada e seguira de muitosua livre vontade aquele homem, que amava e com queria casar. O homemque ela seguia declarou ser irmão do padre-capelão da casa da menina emestre-escola régio nos arrabaldes de Lisboa. Ajuntou mais o raptor, vertendolágrimas caudais, que ele não queria de modo algum dar semelhante passo,mas que a fidalga fora ter com ele, dizendo que não havia outro meio deobterem consentimento para casarem e remediarem o mal feito. Acrescentouo meu amigo administrador que D. Paula, ouvindo tão ignóbil e covarderevelação do mestre-escola, rompera em vociferações contra ele, chamandolhemiserável e pedindo que, sem demora, a enviassem ao seu pai para não vermais um homem indigno do sacrifício dela. O mestre-escola abundava noparecer de Paula e pensava já em retirar-se, quando o administrador lhe disseque fosse esperar na cadeia que a inocência do seu passo fosse julgada. Emconsequência do que o mestre de meninos desmaiou.A autoridade oficiou daí ao governador civil, narrando-lhe os sucessos.Respondeu este que, visto ser tarde para entrar no convento, pernoitasse afugitiva na estalagem, com vigias e sob a responsabilidade dos donos da casa,até virem de Lisboa novas ordens. O irmão do capelão foi para a cadeia ePaula, no dizer da Sra. Felícia, dormiu até uma quinta do seu pai em Azeitão.***
- Page 2 and 3: CORAÇÃO, CABEÇAE ESTÔMAGOCASTEL
- Page 4 and 5: PREÂMBULO— O meu amigo Faustino
- Page 6 and 7: Em 1855 notamos a transfiguração
- Page 8 and 9: PRIMEIRA PARTECORAÇÃO
- Page 10 and 11: eceando que o pai se casasse com a
- Page 12 and 13: ***A segunda era também minha vizi
- Page 14 and 15: me seduzia com o suplemento dos bur
- Page 16 and 17: Eu queria comunicar a exuberância
- Page 18 and 19: — Perfeitissimamente. Queria dize
- Page 20 and 21: saracoteava-se tão peneirada nas e
- Page 22 and 23: Viu-me, fitou-me; não sei se corou
- Page 24 and 25: Aconselhas-me que não vá a Carnid
- Page 26 and 27: Cibrão convenceu-me de que o amor
- Page 28 and 29: Quando voltei a Lisboa, em começo
- Page 30 and 31: Hoje, aí!, hoje um céu de negro,
- Page 32 and 33: médico. Fiz, pois, de mim uma cara
- Page 34 and 35: parava, olhando para as janelas, qu
- Page 36 and 37: com tanto afeto que o próprio gali
- Page 38 and 39: Devia ser à hora em que ela descia
- Page 40 and 41: ***No dia imediato fui, purpureado
- Page 42 and 43: O sino do mosteiro dominicano respi
- Page 44 and 45: processo, a não me valerem alguns
- Page 46 and 47: — Será...— A fidalga é uma do
- Page 48 and 49: angelicamente inocentes que dão ar
- Page 50 and 51: Na rocha alpestreVaga SilvestreTodo
- Page 54 and 55: CONCLUSÃOQuando voltei a Lisboa, r
- Page 56 and 57: À imitação desta, podia eu conta
- Page 58 and 59: Outro bardo, que tem na terra amore
- Page 60 and 61: serra; erraste uma vista, de quem s
- Page 62 and 63: eleza me encanta; mas já não sere
- Page 64 and 65: no separarmo-nos. Neste intervalo,
- Page 66 and 67: Anuiu a tudo, menos ensinar-me a es
- Page 68 and 69: Dum arremesso, entrou no meu quarto
- Page 70 and 71: Nunca mais vi a mestra, nem tive pe
- Page 72 and 73: Não lhe ocultei os haveres, que eu
- Page 74 and 75: chávenas de café e não provou ne
- Page 76 and 77: espedaçava. Apenas conheci a casa
- Page 78 and 79: Não posso bem dizer o que senti ne
- Page 80 and 81: CAPÍTULO IJORNALISTAO homem não s
- Page 82 and 83: Devo a este lorpa a popularidade qu
- Page 84 and 85: Pouca gente alcança os limites do
- Page 86 and 87: lutar com a indiferença pública,
- Page 88 and 89: Falei com D. Justina Mendes, e para
- Page 90 and 91: Contempla as graças da gentil meni
- Page 92 and 93: Onde entesoura imagem prediletaDa m
- Page 94 and 95: A esposa diz que já n'alma lhe dó
- Page 96 and 97: páginas; mas, sobre ser deslealdad
- Page 98 and 99: inermes —, seriam pelo seu mesmo
- Page 100 and 101: Sabido isto, respirou um pouco a ma
- Page 102 and 103:
Francisco José de Sousa prezava no
- Page 104 and 105:
Porto — a suspeita de que a sua m
- Page 106 and 107:
ela, com um brilho de alegria só c
- Page 108 and 109:
Guardava eu as justas conveniência
- Page 110 and 111:
— Nada, não declaro.— Como?!
- Page 112 and 113:
NOTAO autor remata aqui o período
- Page 114 and 115:
Do mundo elegante são excluídas a
- Page 116 and 117:
Os meus estudos patológicos atuam
- Page 118 and 119:
O vestíbulo do teatro lírico seri
- Page 120 and 121:
deliciosa para o olfato. Segue-se u
- Page 122 and 123:
CAPÍTULO IDE COMO ME CASEIProcurei
- Page 124 and 125:
excruciei a estúpida ferocidade co
- Page 126 and 127:
de foguetes de três estalos, e eu
- Page 128 and 129:
monte, que lá chamam mentrasto; e
- Page 130 and 131:
— Pois se quer vir daí à casa d
- Page 132 and 133:
Fui consultado acerca da passagem o
- Page 134 and 135:
— Pois olhe que nunca mais me esq
- Page 136 and 137:
***Depois de ceia, Tomásia saiu a
- Page 138 and 139:
Ao amanhecer do dia seguinte ouvi a
- Page 140 and 141:
— É para o caminho — disse ela
- Page 142 and 143:
O amor inventou-o depois o estragam
- Page 144 and 145:
Tomásia retirou as mãos. Não sei
- Page 146 and 147:
da peregrinação — Deus sabe qu
- Page 148 and 149:
Vi-o na Foz, e conheci então a Sra
- Page 150 and 151:
Ó tempos patriarcaisDeixai que pos
- Page 152 and 153:
O usuário o deraEm troca do servi
- Page 154 and 155:
Quero pôr a descobertoSeus planos
- Page 156 and 157:
Os diques da inspiraçãoRompem-se
- Page 158 and 159:
Os versinhos, doce prenda,Cada vez
- Page 160 and 161:
cicatrizes e instilasse nelas o ven