Na rocha alpestreVaga SilvestreTodo aflito;Na grande testaO vento intestaCom rouco grito,E ele a gemerE o eco a dizer:“Ó periquito!”a letra destes ignominiosos versos era de Maria da Piedade; mas nem por issofica sendo menos criminosa Paula, que sobrescritara a carta.A dor empedrou-me. Grande é a angústia do homem que de si próprio queresconder o seu aviltamento!***Este insulto foi providencial. Foi como mão de ferro, que me apertou ocoração até esvurmar dele as fezes do vilipendioso amor. Saí de Lisboa, nomais agreste do Inverno, e fui para Santarém, onde vi o santo milagrelargamente contado no livro das viagens do adorável poeta da Joaninha doVale.Estava, naquela estação, desabrida em Santarém a natureza. Eu queria chorarsozinho em algum recanto daquelas frondosas encostas e dessedentar-me dasede de amor, dando o coração às maravilhas da Terra e do Céu. Esperava euque a soledade e a contemplação me refrigerassem a alma e a depurassem dasimundícies em que a pobrezinha caíra, como pomba que, fatigada de voejar,não achou outro poisadeiro. A estas esperanças me tinham induzido algunsfilósofos, que tinham o mundo em ódio e acharam no ermo conforto e bem-
aventurança. Neste pressuposto, fui dar o primeiro lance de olhos amoroso ànatureza, subindo àquela empinada eminência que lá chamam a Porta do sol.Apenas assomei ao alto, fiquei comovido das blandícias da natureza, que fezfavor de me tirar o chapéu da cabeça e mo enviou para além-Tejo nas asas deum furacão. Retrocedi vexado da grosseira e sentei-me a recomendar ànatureza de Santarém e ao Diabo os filósofos encomiastas do campo.Rompeu-se uma nuvem, e eu abri o guarda- chuva contra a bátega do vento;uma refega contrária apanhou-mo por dentro em cheio e converteu-mo emroca. A fugir da trovoada desfeita, entrei por um portal. Um cão rafeiro,denominado pelos filósofos o amigo do homem por excelência, arremeteucontra mim e, covardemente, quando eu fugia, me arrancou a aba esquerda dofraque. Deste feitio me recolhi à estalagem da Sra. Felícia, pessoa de agradávelsombra, que se condoeu sinceramente da minha angústia muda.Mal me tinha eu apaziguado dos frenesins da minha irrisória raiva contra anatureza, quando o administrador do conselho mandou perguntar-me quemeu era e que vinha fazer a Santarém, caso não apresentasse passaporte.Respondi categoricamente que era viajante e que o meu passaporte era aminha inocência das coisas alheias ao coração e o desprezo em que tinhafutilidades com que a república era administrada.A autoridade, maravilhada de tão farfalhuda resposta, quis conhecerpessoalmente o discípulo de Diógenes que discreteava na estalagem da Sra.Felícia, e foi procurar-me. Corremos aos braços um do outro. Tínhamos sidocondiscípulos na Universidade, e cinco anos amigos. Fui ser seu hóspede, eresolvi demorar-me alguns meses em Santarém.Uma tarde, recebeu o meu amigo, da mão de um oficial de diligências, umofício do governador civil para imediatamente dar busca na estalagem da Sra.Felícia, onde se presumia estar uma menina nobre, fugida de Lisboa com umsedutor. Ordenava a autoridade superior que o raptor fosse enviado à cadeia ea menina recolhida, até novas ordens, num convento.O meu amigo lera em voz alta o ofício e mentalmente a participação dogovernador civil de Lisboa conteúda no ofício. Observei que ele, depois deum trejeito de pasmo, abriu os beiços para me dizer alguma coisa, massusteve-se, e sorriu com certa malícia.— Queres tu vir na qualidade de aguazil acompanhar-me nesta diligência?— disse-me ele.
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excruciei a estúpida ferocidade co
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O amor inventou-o depois o estragam
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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Ó tempos patriarcaisDeixai que pos
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