25.08.2015 Views

CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

não quero outra vingança das mulheres que me escarneceram a poéticasimplicidade, simbolizada naquele periquito.À saída do teatro, notei que Paula me encarara com o leque de dentro dacarruagem. Rarefez-se a nuvem negra da zombaria. Recolhi-me feliz aoGrémio Literário, e fui nessa noite eloquente em teorias de amor.Às duas horas do dia seguinte, quando eu estava escrevendo as comoçõesalegres da noite desvelada, recebi uma carta da posta-interna. Conheci a letrade Paula. Parou-me o sangue no peito; tremiam-me as mãos como se astomasse o horror de profanarem a missiva do anjo. Abri, e vi que eram versos.Versos! O idioma primitivo do coração! Os suspiros metrificados! Aexpressão suprema do amor que se envergonha de expandir-se em prosa!... Ójúbilo intumescente!Li:Ao terno cantor, que n'almaTem da amante o nome escrito,Solitária amante enviaSaudades do periquito.“Será isto escárnio?!”, exclamei. Respondeu-me a seguinte quadra:Ao meigo vate, que eu amoCom amor casto e infinito,Manda um doce e ardente beijoO saudoso periquito.Não tive alma para ler o terceiro insulto, que mais tarde pude ver:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!